São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2003 |
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AMÉRICA LATINA Diante da escalada de protestos de rua e bloqueios de estradas, governo Toledo proíbe manifestações por 30 dias Peru decreta emergência e reprime greves
DA REUTERS O Peru viveu ontem um dia de conflitos entre forças de segurança e manifestantes após o presidente Alejandro Toledo declarar estado de emergência diante de greves nos setores agrícola, da educação, da saúde e da Justiça. Na noite de anteontem, pressionado pela escalada dos protestos de rua e pelos bloqueios de estradas, inclusive da rodovia Panamericana, a mais importante do país, Toledo baixou um decreto, válido por 30 dias, proibindo manifestações públicas. "Uma coisa é a democracia, outra coisa é achar que a democracia autoriza as pessoas a destruírem a paz", disse o premiê Luis Solari (espécie de superministro indicado pelo presidente). Ontem, a polícia e o Exército reprimiram manifestações. "Isso não é democracia. Eles mandam as tropas para as ruas sempre que se sentem incapazes de lidar [com as insatisfações]", disse a professora Carmen Fajardo, 58. Em Lima (capital), trabalhadores do Poder Judiciário foram dispersados com jatos de água em frente ao Palácio de Justiça. Em Chiclayo (norte), a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo contra professores. Em Barranca (também no norte), manifestantes jogaram pedras contra soldados, que dispararam tiros para o ar. Pelo menos duas pessoas teriam ficado feridas. Em Pativilva (norte da capital), carros foram apedrejados, e ônibus foram depredados. Em outras áreas, o comércio ficou fechado. Soldados retiraram pedras e pneus incendiados de estradas bloqueadas por fazendeiros, que exigem menos impostos. "Temos o direito de expressar nossa insatisfação", disse Nilver Lopez, líder de um sindicato que reúne 280 mil professores. Os dois anos de mandato de Toledo têm sido marcados por protestos e por uma aprovação popular em declínio. Apenas 14% dos peruanos apóiam hoje o governo. Em junho de 2002, o presidente decretou estado de emergência na região de Arequipa (sul do país), após três pessoas morrerem em violentos protestos contra a privatização de empresas elétricas. Muitos peruanos acusam Toledo -um ex-engraxate de origem indígena que estudou nos EUA e trabalhou durante anos como consultor do Banco Mundial, em Washington- de ser incapaz de cumprir suas promessas de trazer mais empregos e prosperidade. Toledo, 58, assumiu a Presidência, em julho de 2001, com grande expectativa após a derrocada do governo Fujimori no ano anterior, destruído por acusações de corrupção e fraude eleitoral e pelo declínio dos indicadores econômicos e sociais. Em sua posse, Toledo prometeu construir "uma economia de mercado com rosto social". Mas, apesar de a economia peruana ter superado a recessão de 2001 e ter crescido 5,2% em 2002 -a taxa mais alta da América Latina-, de a inflação estar sob controle e de o país estar em sintonia com as exigências de disciplina fiscal do FMI (Fundo Monetário Internacional), a população não tem sentido uma melhora. O próprio Toledo reconheceu -durante reunião de cúpula do Grupo do Rio, em Cuzco, na semana passada- a dificuldade em traduzir indicadores macroeconômicos positivos em benefícios reais ao cidadão comum. Segundo ele, os governos da América Latina "têm sido incapazes de articular ajustes econômicos com a necessidade de crescimento econômico sustentável e criação de emprego". Ele propôs medidas criativas para reduzir a pobreza no continente. Entre elas, que 20% dos pagamentos da dívida externa dos países da região sejam reinvestidos em obras de infra-estrutura. "Se o governo não deixar de se ajoelhar diante do FMI e não for mais sensível às necessidades da população, terá de ir embora", disse o professor Jorge Vargas. Texto Anterior: Espaço aéreo: Jatos venezuelanos agem na Colômbia, diz TV Próximo Texto: No voto: Com reservas, oposição assina acordo na Venezuela Índice |
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