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NO VOTO
Documento prevê possível referendo para revogar mandato de Chávez; opositores mais radicais ainda discutem apoio
Com reservas, oposição assina acordo na Venezuela
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Sem o apoio de parte da oposição mais radical, o acordo para a
realização de um referendo para
revogar o mandato do presidente
Hugo Chávez deve ser assinado
hoje em Caracas por representantes da oposição e do governo.
O acordo, mediado pela OEA
(Organização dos Estados Americanos), foi anunciado na semana
passada, após mais de seis meses
de negociações entre membros da
oposição e do governo numa mesa de diálogo. Ele prevê a possibilidade de convocação de um referendo para revogar qualquer
mandato eletivo, incluindo o do
presidente, de acordo com o que
dita o artigo 72 da Constituição.
Pela lei, o referendo deve ser solicitado com as assinaturas de ao
menos 20% do eleitorado (cerca
de 2,5 milhões de pessoas) a partir
da metade do mandato (no caso
de Chávez, 19 de agosto).
Para parte da oposição, que entre dezembro e fevereiro havia
realizado uma greve geral para
pressionar Chávez a renunciar, o
acordo na mesa de diálogo só favorece o governo.
A Fedecámaras, principal associação empresarial do país e uma
das organizadoras da greve geral,
deve decidir somente hoje se
apóia o acordo.
O presidente licenciado da entidade, Carlos Fernández, que está
exilado em Miami, nos EUA, depois de ter sido preso na Venezuela por "rebelião, instigação à delinquência e traição à pátria",
classificou o acordo, em entrevista ao jornal "El Universal", como
"um plano macabro de Chávez
para dissolver a oposição e truncar o caminho ao referendo".
Um grupo de governadores de
oposição discutia ontem à noite
com o secretário-geral da OEA,
César Gaviria, se daria seu apoio
ao acordo.
Para o deputado Alejandro Armas, um dos representantes da
oposição na mesa de diálogo, o
acordo é "relativamente satisfatório".
Acordo inócuo
Para o analista político Luis Vicente León, diretor do instituto de
pesquisas Datanálisis, o acordo é
"inócuo". "Ele não significa um
avanço, porque as duas partes só
se comprometem a cumprir a
Constituição, o que já estavam
obrigados a fazer antes", afirma.
"A assinatura do acordo não significa que haverá necessariamente um referendo, mas que ele poderá ocorrer. E o presidente está
utilizando todos os mecanismos
legais possíveis para afastar essa
possibilidade", afirma.
León vê o acordo como "uma
armadilha bem montada por
Chávez contra a oposição". "Ele
não satisfaz os opositores, mas, se
eles não o assinarem, Chávez poderá dizer que são eles que não
querem o diálogo", diz.
Na avaliação do analista Saúl
Cabrera, diretor do instituto de
pesquisas Consultores 21, o acordo é uma tentativa de Chávez de
passar à opinião pública internacional uma imagem de negociador. "O acordo não avança muito,
mas mais que isso não era possível conseguir. Evidentemente que
o presidente não quer o referendo, porque sabe que há grandes
chances de perder", diz.
Chávez, cujo mandato vence em
2007, disse nesta semana ter confiança da vitória num eventual referendo que, disse ele, só acontecerá se a oposição conseguir cumprir todas as exigências legais previstas pela Constituição para requerer uma votação desse tipo.
O presidente já havia dito, anteriormente, que poderá se manter
no poder até 2021, graças à possibilidade de reeleições.
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