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"Onde estava Deus?", pergunta Bento 16
Em emotiva visita ao campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, pontífice diz ser impossível entender "triunfo do mal"
Papa evitou falar seu idioma no local onde 1,5 milhão
foram mortos, a maioria judeus, mas disse que estava lá como filho do povo alemão
AFP/Dimitar Dilkoff
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O papa Bento 16 reza diante de lápides durante uma cerimônia em memória às vítimas do campo de concentração nazista de Auschwitz, no encerramento de sua visita de quatro dias à Polônia |
DA REUTERS
Referindo-se a si mesmo como "filho da Alemanha", o papa
Bento 16 rezou ontem no antigo campo de concentração de
Auschwitz, na Polônia, e questionou por que Deus se silenciou quando 1,5 milhão de vítimas, a maioria judeus, morreram no "vale de escuridão".
Terminando o quarto dia de
peregrinação na Polônia, Bento
16, 79, disse que seres humanos
não poderiam compreender
"esse massacre sem fim", mas
apenas buscar reconciliação
com aqueles que sofreram nesse "lugar de horror".
No restante de sua viagem,
Bento 16 seguiu os passos de
seu antecessor, o polonês João
Paulo 2º, que veio ao campo de
Auschwitz em 1979 em sua primeira viagem à Polônia como
papa. "O papa João Paulo 2º
veio aqui como filho do povo
polonês. Eu venho hoje como
filho do povo alemão", disse
Bento 16, em italiano, perto das
ruínas de cremação de Birkenau, no complexo de Auschwitz. "Eu não poderia deixar de
vir", afirmou.
O papa também rezou pela
paz em sua língua nativa, o alemão, a qual evitou na maior
parte do tempo para não magoar os sentimentos de judeus,
e em polonês. Joseph Ratzinger, o papa Bento 16, foi forçado
a se juntar à juventude hitlerista na 2ª Guerra Mundial.
Onde estava Deus?
Um chuva fina caiu sobre
Auschwitz até a cerimônia
principal, quando o céu clareou
e um arco-íris apareceu.
"Em um lugar como este, faltam palavras. No fim, pode haver apenas um silêncio no qual
um coração clama por Deus.
Por que, Deus, o senhor permaneceu em silêncio? Como pôde
tolerar tudo isso? Onde estava
Deus naqueles dias? Por que ficou ele em silêncio? Como pôde ele permitir esse massacre
sem fim, esse triunfo do mal?"
Bento 16 disse que era humanamente impossível "penetrar
nos mistérios de Deus para entender tamanha maldade, mas
apenas chorar humilde e insistentemente pelo Senhor." Antes da cerimônia, ele visitou o
principal campo de Auschwitz,
onde passou pelo portão com a
inscrição "Arbeit macht frei" (o
trabalho liberta) e encontrou
32 dos 200 mil sobreviventes
do paredão da morte.
Em seu discurso, o papa por
duas vezes mencionou termos
em alemão que os nazistas usavam para alguns inimigos -
"lebensunwertes Leben" (a vida não vale ser vivida) para ciganos e "Abschaum der Nation" (escória da nação) para
alemães anti-nazistas.
Ele disse que, na tentativa de
derrubar os judeus, os nazistas
procuravam "matar o Deus que
chamam de Abraão, que falou
no monte Sinai e determinou
os princípios para servir como
um guia para a humanidade,
princípios que são eternamente válidos". Ele também lembrou Edith Stein, judia alemã
que se converteu ao cristianismo, foi morta em Auschwitz e
mais tarde se tornou santa.
Alemães assassinados pelos
nazistas foram "testemunhas
da verdade e de Deus, que mesmo entre nosso povo não foram
eclipsados... agora eles resistem
diante de nós como luzes brilhando em uma noite escura".
Em um incidente ocorrido
sábado em Varsóvia e que a polícia desconfia ter motivação
anti-semita, o rabino-chefe da
Polônia, Michael Schudrich, foi
atacado com um soco e spray de
pimenta. O rabino contou que
foi atacado por um jovem que
gritou "a Polônia para os poloneses".
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