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IRAQUE SOB TUTELA
Posse do governo interino em Bagdá ocorre 2 dias antes do previsto por temor de ataques; Bremer deixa país
Com medo, EUA antecipam transferência
DA REDAÇÃO
O governo interino iraquiano
tomou posse ontem, dois dias antes da data prevista, em uma cerimônia discreta e privativa em
Bagdá. Foi um movimento-surpresa dos EUA, que devolveram
aos iraquianos a administração de
seu país mais de 15 meses depois
de o terem invadido e imediatamente retiraram de lá sua máxima autoridade civil, o chefe da
agora extinta Autoridade Provisória da Coalizão, Paul Bremer.
Segundo resolução da ONU
aprovada no último dia 8, esse governo será "soberano". Mas ele
não tem controle sobre os cerca
de 160 mil soldados estrangeiros
que permanecerão no país sob comando americano pelo menos até
o fim de 2005, quando deve tomar
posse o primeiro governo eleito
do Iraque em mais de 40 anos. Os
EUA afirmam que suas forças
continuarão no Iraque "pelo tempo que for necessário".
Segundo um membro do governo que pediu para não ser identificado, a antecipação do processo
vinha sendo discutida entre o gabinete interino e as autoridades
americanas havia dez dias, mas só
ontem se chegou a uma decisão.
A transferência, sacramentada
em uma carta entregue por Bremer ao juiz iraquiano Midhat al
Mahmud, pegou de surpresa jornalistas, a população iraquiana e,
sobretudo, os insurgentes, que
desde o início de junho vinham
intensificando sua campanha de
ataques contra estrangeiros e iraquianos que colaborassem com
os EUA -o que alimentou os temores de que ataques sangrentos
fossem planejados para amanhã,
o dia marcado para a transferência administrativa.
Os ataques da insurgência impuseram os maiores obstáculos à
ocupação americana e levaram
autoridades como o secretário de
Estado dos EUA, Colin Powell, a
concluir que o planejamento para
o pós-guerra, após uma eficiente
ação militar, deixou a desejar.
Desde a intensificação da campanha da insurgência, em agosto
passado, a coalizão liderada pelos
EUA passou a revisar seus planos,
buscando transferir a administração do país aos iraquianos o mais
cedo possível e, assim, tentar conter a violência e obter maior apoio
internacional diante da escalada
das baixas militares (mais de 600
soldados dos EUA morreram no
pós-guerra) e de seu alto custo.
Mas a escolha do governo interino, que teve como base o extinto
Conselho de Governo Iraquiano
(nomeado pelos EUA), não agradou aos insurgentes nem aos demais opositores da ocupação, que
costumam se referir ao novo gabinete como "fantoches" dos EUA.
O premiê interino, Iyad Allawi,
um médico xiita de 59 anos, é visto com desconfiança por ter feito
parte do Baath -o extinto partido de Saddam Hussein- e trabalhado para serviços secretos ocidentais como a CIA.
"O Iraque nunca será isolado
como Saddam queria que fosse",
disse Allawi ao assumir o cargo,
pedindo união dos iraquianos
contra a insurgência. "É uma tarefa complexa. A transformação da
sociedade não vai ocorrer em semanas, dias ou meses, mas sim
em anos. Estamos cheios de esperança, paciência e tolerância, mas
seremos firmes e avançaremos
rumo à paz, à estabilidade e à democracia." Já o presidente interino, o líder tribal sunita Ghazi Yawer, agradeceu à coalizão e referiu-se à data como "um dia histórico, feliz, pelo qual os iraquianos
aguardavam ansiosamente".
A cerimônia de transferência
ocorreu a portas fechadas no palácio usado pelo antigo Conselho
de Governo Iraquiano e só foi
anunciada publicamente depois
de acabar, às 10h26 (hora local). A
posse aconteceu num segundo
evento, desta vez televisionado.
Responsáveis pelo que ocorreu
no Iraque durante os últimos 15
meses, o presidente dos EUA,
George W. Bush, e o premiê britânico, Tony Blair, foram informados de que a transição havia ocorrido quando participavam da cúpula da Otan em Istambul.
Só horas mais tarde o secretário-geral da ONU, Kofi Annan
emitiu um comunicado dando ao
Iraque as boas-vindas "de volta à
família das nações independentes
e soberanas".
Pronta retirada
O novo embaixador americano
no país, John Negroponte, chegou
em Bagdá poucas horas depois de
Paul Bremer deixar o país. Ex-representante dos EUA na ONU,
Negroponte deve comandar a
maior embaixada americana no
mundo -mais um sinal de que,
apesar do fim oficial da ocupação,
a presença americana no Iraque
permanecerá forte.
Administrador do país desde
maio de 2003, Bremer deixou o
Iraque duas horas após entregar o
poder, embarcando em um avião
militar após uma rápida cerimônia no Aeroporto Internacional
de Bagdá. Ele estava acompanhado do porta-voz da coalizão, Dan
Senor, e de assessores próximos.
Com agências internacionais
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