São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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AMÉRICA LATINA

Polícia restringe acesso ao aeroporto

Volta de Oviedo ao Paraguai testa hoje a estabilidade do governo

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU

Cercada de muita expectativa e anunciada com grande publicidade, a volta do ex-general Lino Oviedo ao Paraguai, marcada para hoje, colocará em teste tanto a estabilidade do presidente Nicanor Duarte Frutos, que enfrenta greves de servidores públicos e na semana passada perdeu a eleição da Presidência da Câmara, quanto a credibilidade da renovada Corte Suprema de Justiça.
Eminência parda da política paraguaia nos anos 1990, Oviedo, 60, foi condenado a dez anos de prisão por ter planejado um golpe de Estado em 1996. O ex-general é acusado ainda de envolvimento na morte do vice-presidente Luis María Argaña, em 1999 -ano em que fugiu do país.
Oviedo nega as acusações e diz que seu julgamento foi político, sem direito à defesa. Ele aposta que, após recente substituição de seis dos nove juízes da Corte Suprema de Justiça, terá a sua sentença anulada e será absolvido das demais acusações.
"Essa situação jurídica permite também que voltem outras pessoas que estão fora do Paraguai como exilados políticos. Eu soube que hoje [ontem] voltou o general José Segovia que estava no Uruguai", disse Oviedo à Folha, em entrevista em Foz do Iguaçu. Ex-ministro da Defesa, Segovia é aliado de Oviedo.
O ex-general deve desembarcar por volta das 11h locais em Assunção, onde chega a bordo de um avião comercial acompanhado de cerca de 60 jornalistas, segundo cálculo da assessoria de Oviedo, que ofereceu passagens a meios de comunicação.
Temendo manifestações de oviedistas, o governo paraguaio restringiu desde domingo o acesso ao aeroporto de Assunção num raio de 2 km. O comando da Polícia Nacional advertiu que "será implacável com os exaltados que busquem incitar contra a ordem pública". Em Ciudad del Este, o reforço na segurança provocou filas de até 5 km na já confusa ponte da Amizade.
Duarte Frutos também quer que o ex-general fique longe da capital. O ministro da Defesa, Roberto González, afirmou que ele será levado a um isolado forte militar na fronteira com a Bolívia, a 800 km de Assunção.
Na última sexta-feira, no entanto, um juiz criminal escreveu a Duarte Frutos que Oviedo deve ser "colocado imediatamente à disposição do Ministério Público". A Folha não localizou nenhum representante do governo para comentar o impasse.
Oviedo acusa o governo de "dualidade de competência": "Não é o ministro que tem de determinar, mas a Justiça".
A Folha apurou que, durante encontro reservado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no final de maio em Guadalajara (México), Duarte Frutos manifestou preocupação com a volta de Oviedo ao Paraguai.
Em resposta, Lula disse que o governo brasileiro não permitiria que o ex-general exercesse atividades políticas no país. O Brasil considera que a volta de Oviedo é um assunto interno paraguaio.
Em 2001, o Supremo Tribunal Federal negou um pedido de extradição do Paraguai.


Com a agência France Presse


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