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MUDANÇA
Governo anuncia medidas que liberalizam prática
Menores vão poder fazer aborto na França sem autorização dos pais
DE PARIS
O governo francês cedeu a pressões de grupos feministas e anunciou mudanças que tornam mais
branda a lei do aborto no país,
permitindo, inclusive, que menores de idade interrompam a gravidez sem autorização dos pais.
Segundo Martine Aubry, ministra do Emprego, Solidariedade e
Assuntos Sociais, a partir de agora
"a autorização paterna não será
uma condição prévia (para a menor realizar o aborto)".
A nova lei estabelece que, em
sua primeira visita médica, a menor que alegar não ter como conseguir autorização dos pais será
aconselhada a tentar um diálogo
com a família.
Caso ela não consiga, na segunda visita será designado um adulto -escolhido pela gestante ou
pela equipe de médicos e psicólogos encarregados do caso- para
acompanhá-la durante e após a
intervenção.
Martine Aubry justificou a medida alegando que "existem casos, particularmente dolorosos,
em que a menor não pode, sob sérios riscos para si mesma, nem
conversar com a família".
IVG
"Por isso, decidimos que a autorização paterna não seria mais
uma condição necessária para a
IVG (interrupção voluntária da
gravidez, como o aborto é chamado na França)", afirmou a ministra francesa.
Outra alteração importante em
relação à lei antiga -que data de
1975- é a ampliação do prazo
para realizar o aborto. A interrupção da gravidez, que até então podia ser feita até a décima semana
de gestação, agora pode ser feita
até a 12ª semana.
Com as alterações na lei do
aborto, o governo espera reduzir
em 80% o número de mulheres
que se dirigem a outros países, cuja legislação é mais branda, para
realizar a operação de IVG.
O governo estima que cerca de
5.000 mulheres por ano na França
recorrem a essa alternativa. O número oficial de abortos realizados
no país é de 220 mil por ano, o
equivalente a 1 em cada 3 nascimentos.
Críticas
Setores conservadores da sociedade criticaram a mudança na legislação, alegando que a medida
seria um estímulo para a gestante
abortar caso exames detectem
anomalias mínimas no feto ou caso o futuro bebê seja do sexo
oposto ao desejado.
O presidente da Federação Nacional das Famílias da França,
Jacques Bichot, disse que as mudanças podem acarretar "um aumento das intervenções por razões de eugenia". "Não acredito
que autorizar as menores a abortar sem a permissão dos pais seja
possível", afirmou.
Para Martine Aubry, tais alegações "não são fundadas em critérios de saúde pública, ou então se
baseiam em uma visão falsa e infantilizadora das mulheres".
"Não temos essa concepção sobre as mulheres", afirmou a ministra.
O governo francês anunciou
também que vai apoiar um projeto de lei, que será discutido em
outubro na Assembléia Nacional,
para facilitar o acesso de adolescentes à chamada pílula do dia seguinte (contraceptivo de urgência).
O projeto prevê que a pílula seja
ministrada a alunas por assistentes de saúde escolares, mesmo se
não houver autorização dos pais.
Outros países
As mudanças na lei do aborto
na França aproximam o país de
seus vizinhos europeus em termos de tempo de tolerância para
a intervenção.
Na Grécia, na Áustria, na Dinamarca e na Itália, a interrupção da
gravidez pode ser realizada legalmente até a 12ª semana de gestação.
Na Suécia, onde o aborto era
permitido até a 24ª semana, o prazo foi reduzido para 18 semanas.
A Holanda e o Reino Unido são
os países mais liberais em relação
ao aborto, que pode ser realizado
até a 24ª semana de gravidez,
mesmo sem autorização médica.
Já a Suíça é o país mais rigoroso:
o aborto só é permitido mediante
autorização de dois médicos, independentemente do período de
gestação.
A Noruega (além da França, antes da mudança anunciada nesta
semana) é o país com o limite
mais reduzido para a prática da
interrupção voluntária da gravidez: até a décima semana de gestação.
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