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Fragilidade torna-se marca do fim de papado
FRANK BRUNI
DO "THE NEW YORK TIMES", EM TORONTO
Já foi bastante diferente. O papa
João Paulo 2º, que atravessou o
globo com frequência e entusiasmo diferentes de qualquer um de
seus predecessores, participava
de três ou quatro eventos grandes
a cada dia de viagem. Mas, na semana passada, durante a sua primeira visita à América do Norte
em mais de três anos, ele passou
mais tempo em reclusão do que à
vista do público.
O que os americanos observaram imediatamente foi um papa
tão diminuído fisicamente que os
oficiais da igreja ficavam nervosos
a cada pequeno vacilo em seu vigor. "A sensação que se tem", disse o porta-voz do papa, Joaquín
Navarro-Valls, "é de que o que
você está vendo é uma alma empurrando um corpo". Chegou-se
a um ponto onde essa imagem define em grande parte o atual momento do papado de João Paulo
2º e ofusca outros aspectos.
Para alguns, a pergunta é se o
papa, de 82 anos, permanece em
condições de lidar com os desafios da igreja, incluindo os crescentes relatos de abuso sexual de
crianças por padres.
"Admiro sua determinação,
mas creio que possa ser melhor se
ele renunciar", disse Andrew
Greeley, sociólogo e escritor católico dos EUA. "Não se pode ser
tão vigoroso quanto um papa precisa ser quando se está com artrite, mal de Parkinson e sequelas de
uma tentativa de assassinato."
O escândalo de abuso sexual de
crianças por integrantes da Igreja
Católica eclodiu nos EUA, onde
está tendo grande repercussão.
Mas o papa, durante sua atual viagem, apenas sobrevoará o país
hoje, quando prosseguir rumo à
Guatemala e ao México.
Os EUA nunca fizeram parte de
seus planos de viagem, centrados
nas Jornadas Mundiais da Juventude, no Canadá. Segundo o Vaticano, isso aconteceu devido à avaliação de que as dimensões do
problema de abuso sexual foram
exageradas. Mas a saúde do papa
foi levada em consideração.
Em Roma, a rotina também foi
modificada. De acordo com funcionários do Vaticano, frequentemente, ele recebe bispos estrangeiros em grupos de cinco, e não
um de cada vez, como antes.
Mas Navarro-Valls diz que o papa está firme no comando da igreja e considerou insignificante o
momento curioso na quinta-feira,
quando João Paulo 2º declarou
erroneamente que as últimas Jornadas da Juventude ocorreram na
Polônia. Na verdade, elas foram
realizadas em Roma.
Mas, para os adolescentes que
foram a Toronto, a fragilidade do
papa serviu de estímulo, pois
muitos mencionaram a possibilidade de o papa não sobreviver
por muito mais tempo como um
incentivo extra para ir ao Canadá.
Oficiais da igreja se esforçaram
para relatar as atividades de João
Paulo 2º de forma a descrevê-lo
como mentalmente vibrante. Não
puderam negar a postura curvada
do papa ou as expressões frequentemente vagas, mas tentaram mostrar sua fragilidade de
forma positiva.
O cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras, frequentemente mencionado como possível sucessor do papa, disse que ele
"está mostrando como é possível
cumprir uma missão, até o fim,
com coragem e amor". Meses
atrás, o cardeal dissera que o papa
"teria a coragem" de renunciar se
a sua saúde piorasse, mas, na semana passada, disse que era "melhor não falar sobre isso".
Seus comentários mostram a
dificuldade para acessar informações sobre a saúde do papa. As
próprias palavras do papa sugerem que ele vê o sofrimento como
desejo de Jesus. Então ele segue
em frente. Em agosto, deve ir à
Polônia. Há a possibilidade de
uma viagem em janeiro para as
Filipinas. Seria uma viagem longa
e árdua. Mas, segundo Navarro-Valls, "ele deseja ir".
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