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São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2003

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RELIGIÃO

Ante crescente aceitação legal em países desenvolvidos, Igreja Católica lançará campanha contra casamento gay

Vaticano reage à união civil homossexual

DA ASSOCIATED PRESS

O Vaticano está procurando o apoio de políticos e da opinião pública em todo o mundo à sua campanha contra o casamento gay, pois está preocupado com a crescente aceitação legal da união civil homossexual na Europa e na América do Norte.
As instruções nesse sentido, exortando a classe política a se opor a estender aos homossexuais os direitos concedidos a casais tradicionais, constam de um documento preparado pelos guardiões da ortodoxia na igreja, a Congregação para a Doutrina da Fé, declararam ontem funcionários do Vaticano.
O documento -"Considerações sobre as Propostas de Dar Reconhecimento Legal a Uniões entre Pessoas Homossexuais"- será lançado na quinta-feira, segundo o Vaticano.
Um funcionário do Vaticano classificou o texto de "reflexão prática" para os políticos católicos, para os não-católicos e para a opinião pública em geral.
"O documento defende que o reconhecimento concedido a casamentos tradicionais não seja ampliado às uniões homossexuais", disse o funcionário, pedindo que sua identidade não fosse revelada. O papa João Paulo 2º e os principais funcionários do Vaticano vêm-se pronunciando, há meses, contra as propostas legislativas de legalização dos casamentos homossexuais.
A Igreja Católica não é a única igreja cristã envolvida no debate. Em sua convenção nacional, que começa quarta-feira em Minneapolis (Minnesota), a Igreja Episcopal dos Estados Unidos decidirá se aprova uniões homossexuais e sacerdotes abertamente gays, questões que vêm causando profundas cisões em suas fileiras.
Os ensinamentos católicos pregam que os homossexuais não sejam submetidos a uma "discriminação injusta", mas os conclamam a manter a castidade.
Em janeiro, o papa aprovou diretrizes destinadas a políticos católicos, segundo as quais a oposição da igreja ao aborto, à eutanásia e ao casamento homossexual continua existindo.
A igreja diz que é preciso promover a salvaguarda do casamento entre o homem e a mulher e que "de forma nenhuma outros modos de coabitação podem ser colocados em nível semelhante ao do casamento nem devem receber reconhecimento jurídico como tal".
Duas Províncias do Canadá (Ontário e Colúmbia Britânica) legalizaram o casamento homossexual, uma medida que atraiu gays que vivem do outro lado da fronteira com os Estados Unidos.
A Corte Suprema de Massachusetts (EUA) analisa a legalização de uniões civis homossexuais.
Em Washington, alguns legisladores republicanos estão solicitando uma emenda constitucional que proíba o casamento gay em todo o país.
No começo do mês, um importante cardeal alemão condenou a lei de união civil homossexual adotada em seu país, depois que ela foi confirmada pela Corte Suprema do país, e a classificou de um revés para a "família alemã".
"Agora, as associações de homossexuais têm uma arma potente para obter novas concessões na estrada para a completa igualdade em relação aos casais casados, incluindo o direito à adoção", se queixou o cardeal Karl Lehman, em entrevista à rádio do Vaticano. O Vaticano está especialmente preocupado com a redução da influência da igreja na Europa. Os responsáveis pelo anteprojeto da Constituição da União Européia ignoraram os pedidos do Vaticano, que queria uma menção explícita às raízes cristãs da Europa.
Anteontem, o papa lamentou que a mensagem da Igreja Católica estivesse sendo diluída na Europa, lastimando a difusão de "um sentimento religioso vago e pouco exigente, que pode se transformar em agnosticismo e em ateísmo prático".
Funcionários do Vaticano disseram que o documento -com 12 páginas de extensão e disponível em sete idiomas- é inteiramente dedicado à questão do casamento homossexual.
O parlamentar italiano Franco Grillino, líder dos ativistas gays de seu país, condenou a posição do Vaticano, chamando-a de "nova intrusão nos assuntos nacionais".
Ele acusou o Vaticano de agir de modo severo demais na Itália e em diversos países europeus predominantemente católicos, privando os gays de direitos garantidos em outras nações.


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