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NAÇÕES UNIDAS
Comissão de notáveis deve apresentar propostas para fortalecer setor empresarial de países em desenvolvimento
ONU estimula empresas contra pobreza
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Diante dos passos de tartaruga
de quase todo o mundo rumo às
metas de desenvolvimento humano traçadas para a próxima década, a ONU resolveu mudar o foco
e pedir ajuda à iniciativa privada.
O secretário-geral da entidade,
Kofi Annan, estabeleceu uma comissão de notáveis para apresentar até novembro propostas que
fortaleçam o setor empresarial
dos países em desenvolvimento
-medida que, acredita a ONU,
irá ajudar a combater a pobreza.
É a primeira ação concreta da
ONU após a divulgação, no início
do mês, dos fracos resultados na
melhoria da qualidade de vida do
planeta nos anos 90. Segundo o
relatório anual elaborado pelo
Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a
década passada foi palco de importantes retrocessos na qualidade de vida pelo mundo.
Os números mostram desaceleração no avanço do IDH (índice
de desenvolvimento humano) e
indicam que o planeta está longe
da velocidade necessária para
cumprir as chamadas "Metas do
Milênio". A China, que tirou 150
milhões da pobreza, foi exceção.
Estabelecidas em 2000, as metas
são um conjunto de 18 objetivos
-a maior parte deles baseados
nos avanços entre 1990 e 2015-
que teriam que ser alcançados pelo mundo em áreas como redução
da pobreza e da fome.
Para acelerar o desenvolvimento, a comissão criada na ONU deverá focar seu trabalho em ações e
exemplos que estimulem o surgimento de pequenos e médios empresários. Além disso, prepara-se
para traçar recomendações de política macroeconômica, regras de
comércio, idéias de legislação e
caminhos para atração de investimento estrangeiro direto.
Uma proposta que deverá ser
analisada é a da criação de um tribunal internacional de falências,
possibilidade que tem apoio do
FMI (Fundo Monetário Internacional) e que foi elogiada pelo co-presidente da comissão da ONU
Paul Martin, ex-ministro da economia do Canadá.
A comissão tem 16 membros,
entre eles Ernesto Zedillo (ex-presidente do México), Robert Rubin
(ex-secretário do Tesouro dos
EUA e hoje executivo do Citigroup), Jorge Castañeda (ex-ministro das Relações Exteriores do
México) e Eduardo Aninat (ex-vice-diretor do FMI). Há ainda nomes de multinacionais (como a
presidente da HP, Carleton Fiorina) e de origem acadêmica.
A ação da ONU marca também
um novo rumo para a entidade,
estruturada para funcionar a partir de representações oficiais de
países. Nos últimos anos, ela vem
ampliando seus laços com organizações não-governamentais,
mas ainda deu poucos passos em
direção ao setor privado.
"O nascimento desta comissão é
outra ilustração da parceria que
cresce rapidamente entre a ONU
e o setor privado", disse Annan na
cerimônia de lançamento.
Os problemas para o cumprimento das Metas do Milênio ficaram evidentes nos números levantados pelo Pnud. A redução
da pobreza, por exemplo, primeiro dos objetivos traçados, pouco
avançou -na verdade, se a China
for retirada das estatísticas, tem-se que o número absoluto de pobres cresceu nos anos 90.
A agenda do livre comércio e da
desregulamentação que está na
pauta da comissão significa também um passo da ONU numa
área que vem tendo outros atores,
como o governo americano e o
FMI, em sua linha de frente.
Acostumada a se equilibrar na
corda bamba ideológica durante a
Guerra Fria, a ONU toma agora liberdade para sugerir políticas que
considera boas, ainda que não se
encaixem no receituário de todos
os seus membros.
Tal situação já foi motivo de críticas ao próprio Annan em ocasiões anteriores. Ele, porém, dá sinal de que não vai recuar. "Não
podemos atingir as metas [do Milênio] sem um setor privado forte
nos países em desenvolvimento,
para criar empregos e construir
prosperidade", disse.
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