São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Aniversário de um mês da posse do governo interino é marcado por mais de cem mortes violentas

Atentado mata ao menos 70 em Baquba

Karim Sahib/France Presse
Em um hospital em Baquba, parentes choram junto aos corpos de vítimas do atentado


DA REDAÇÃO

O Iraque viveu ontem o dia mais violento desde a posse do governo interino, em 28 de junho, com a morte de mais de cem pessoas em diferentes ataques pelo país. No maior deles, ao menos 70 pessoas morreram e mais de 30 foram feridas em Baquba, 65 km ao norte de Bagdá, quando um terrorista suicida detonou um microônibus repleto de explosivos.
Barham Saleh, vice-premiê, acusou simpatizantes do ex-ditador Saddam Hussein de promoverem o morticínio no aniversário de um mês da transição, ocorrido só três dias antes da Conferência Nacional que escolherá legisladores provisórios. "Foi um ato covarde executado por traidores e lacaios do terror", disse.
A explosão em Baquba foi a mais violenta, em termos de baixas, desde o atentado contra uma mesquita em Najaf, que matou 83 pessoas, em agosto de 2003.
Apesar da presença de uma Força Multinacional composta por cerca de 160 mil militares sob comando dos EUA, desde que o Iraque recobrou sua soberania perante a ONU, os ataques não pararam e a segurança no país continua se deteriorando. Segundo dados do comando americano, as forças iraquianas continuam sendo alvo de 30 a 40 atentados diários, de maior ou menor escala.
O general Erv Lessel, vice-diretor de operações militares dos EUA no Iraque, disse à agência Reuters que quase mil iraquianos morreram ou foram feridos em ataques da insurgência desde junho. "É difícil prever o que os grupos terroristas farão. Hoje foi um exemplo de quão abomináveis eles podem ser. Eles querem que a Força Multinacional deixe o Iraque e buscam destruir o governo soberano", disse Lessel. Segundo ele, as mortes no último mês chegaram a cerca de 250. Mais de 700 pessoas foram feridas.
Mesmo sendo o principal alvo de ataques, as forças de segurança iraquianas continuam a atrair recrutas, sobretudo por causa dos salários comparativamente altos ante o alto desemprego no país.
O ataque de ontem ocorreu perto de uma delegacia e de um movimentado mercado. Na delegacia, dezenas de iraquianos faziam fila para se alistarem na polícia. "Reunimos todos em um lugar para inscrever seus nomes. Havia uma fila, e, de repente, esse veículo apareceu e explodiu", disse um policial no local.
Dos mortos, 22 estavam em um microônibus que passava ao lado do veículo que explodiu. Bombeiros acorreram ao local. Imagens da Reuters Television mostraram corpos espalhados pela rua, alguns ainda queimando.
Uma funcionária do Ministério da Saúde disse que 70 pessoas foram mortas e outras 30 foram feridas no ataque, que ocorreu às 10h13 da manhã (hora local), mas alertou que o saldo deve subir.
Baquba, majoritariamente sunita, é palco constante de violência, e especialistas em segurança já se disseram temerosos de que a cidade se torne uma nova Fallujah, a cidade sunita a oeste de Bagdá em que os americanos não entram e as patrulhas iraquianas não conseguem conter os insurgentes. Ao longo dos 15 meses do pós-guerra, Fallujah se tornou o local mais perigoso do país.
Mas a violência não se limita aos focos de simpatizantes do regime deposto, que privilegiava os sunitas em detrimento da maioria xiita. No majoritariamente xiita sul do país, perto da cidade de Suwariyah, um confronto entre insurgentes e forças iraquianas, apoiadas por soldados dos EUA e da Ucrânia (membro da Força Multinacional) acarretou a morte de 35 insurgentes e sete policiais iraquianos, segundo o comando americano. O embate começou durante uma operação para desarmar insurgentes. Foram capturadas cerca de 40 pessoas.
Na província da Anbar, onde ficam Fallujah e Ramadi, dois soldados da coalizão foram mortos em ação e duas aeronaves foram forçadas a pousar após serem alvejadas. Na região, operam principalmente marines.

Conferência
No sábado, começará a Conferência Nacional do Iraque, da qual devem participar cerca de mil representantes de diferentes segmentos da sociedade iraquiana. No evento, serão escolhidos cem legisladores para integrar a Assembléia Nacional interina, encarregada de supervisionar o governo interino e de redigir a Constituição permanente do país.
Medidas especiais de segurança estão sendo tomadas para o evento, que será patrulhado tanto pelas forças locais quanto por militares dos EUA. O maior medo é de ataques com carros-bomba, mas os participantes também temem a onda de seqüestros que assola o país desde abril

Com agências internacionais

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