São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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Brasil não consegue reduzir corrupção, diz pesquisa

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O Índice de Percepções de Corrupção da Transparência Internacional, divulgado ontem, mostra que o Brasil não apresentou alteração de sua imagem em relação a 2001, o que "é grave", de acordo com Claudio Weber Abramo, secretário-geral da Transparência Brasil. Neste ano, o país ficou com nota 4, a mesma do último ano.
Isso indica que o Brasil não teve sua imagem deteriorada no que diz respeito à percepção internacional de seu grau de corrupção, no entanto também demonstra que a situação não melhorou. Em 2000, o Brasil recebeu nota 3,9. Neste ano, o país ficou no mesmo patamar da Bulgária, da Jamaica, do Peru e da Polônia.
"O resultado brasileiro significa que, se há efetivamente medidas e iniciativas anticorrupção tomadas pelo governo federal e pelos governos estaduais e municipais, elas não surtiram efeito positivo no que concerne à percepção da corrupção. E a falta de progresso no combate à corrupção é grave", declarou Abramo à Folha.
"Cerca de 70% dos países da lista estão abaixo da nota 5, que seria "média". Isso ocorre porque a maior parte dos países é pobre. Assim, as causas da corrupção são diretamente ligadas a fatores relacionados à pobreza. Trata-se da incapacidade do Estado de controlar seus próprios quadros e da falta de mecanismos de controle entre os três Poderes. É, portanto, natural que um país mais pobre seja menos estruturado, abrindo caminho para a corrupção."
Segundo Abramo, é preocupante que o assunto venha sendo ignorado completamente pelos protagonistas das variadas disputas eleitorais que ocorrem no Brasil atualmente. "Os políticos passam muito tempo criticando a corrupção de seus adversários. Mas, na hora de apresentar propostas concretas combatê-la, eles se calam. Por quê?"
Para solucionar o problema, a Transparência Brasil propõe a criação de uma agência nacional anticorrupção -que incluiria representantes dos três Poderes, do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União e de organizações sociais (estes com um papel consultivo). Essa agência "deveria conceber um plano de combate à corrupção e, em seguida, supervisionar a implementação das medidas e analisar os resultados obtidos", de acordo com Abramo.
A Transparência Brasil redigiu um documento com medidas concretas para atacar o problema. Esse texto foi apresentado aos candidatos à Presidência, contudo, por enquanto, nenhum deles o assinou. Para Abramo, esse documento serviria para que a sociedade civil pudesse "cobrar" medidas concretas dos políticos, pois a "falta de vontade política" permite que a corrupção se dissemine.


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