|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
Fracasso na busca ao saudita faz EUA dizerem que a meta é destruir Al Qaeda, mas país ainda espera pegá-lo
Caçada a Bin Laden frustra americanos
IAN FISHER
JOHN F. BURNS
DO ""THE NEW YORK TIMES" EM ASADABAD, AFEGANISTÃO
Após meses de frustração, comandantes americanos parecem
ter concluído que Osama bin Laden provavelmente ainda está vivo e se desloca entre esconderijos nas montanhas situados em alguma parte de um trecho de 400 km
de extensão da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
A busca por Bin Laden e seus
homens, incluindo seu segundo
em comando, Ayman Al Zawahiri, segue caminhos tão turvos
quanto as águas dos rios que
fluem pelas inóspitas montanhas
da região. Quase um ano após o 11
de setembro e quase nove meses
depois que pessoas ligadas a Bin
Laden tornaram pública a última
fita gravada que o mostrava comentando os ataques a Nova
York e Washington, está muito
difícil encontrar informações
confiáveis sobre os principais líderes da Al Qaeda.
Mas alguns representantes
americanos, falando extra-oficialmente, disseram que a premissa
que move a caçada humana é a de
que esses líderes ainda estejam vivos. Eles citam relatos -em sua
maioria pouco detalhados- obtidos de fontes afegãs e paquistanesas que mencionam Bin Laden
e uma comitiva de várias dúzias
de homens que teriam se deslocado mais de uma vez desde o bombardeio americano às montanhas
de Tora Bora, no final de 2001.
Alguns desses relatos, dizem
oficiais americanos, sugerem que
os fugitivos possam ter se deslocado pelas montanhas a cavalo, provavelmente em noites nubladas,
para fugir da vigilância aérea. A
região coberta pela busca abrange
quatro Províncias afegãs -Kunar, Nangahar, Paktika e Paktia-, além de áreas tribais paquistanesas adjacentes.
Na época da maior batalha terrestre americana da guerra, em
março, no vale do Shahikot, a 160
km a sudoeste de Cabul, comandantes americanos disseram que
combatentes da Al Qaeda e do Taleban que opuseram resistência às
tropas americanas por 11 dias poderiam estar protegendo ""um patrimônio de grande valor", ou seja, Bin Laden e Zawahiri. Depois
da batalha, entretanto, não foi encontrado nenhum traço deles.
Porta-vozes militares americanos
disseram que alguns homens da
Al Qaeda parecem ter fugido para
o Paquistão.
Um porta-voz do comando
americano disse que unidades das
Forças Especiais enviadas a bases
como a de Asadabad estão trabalhando com a premissa de que
aplicar pressão a qualquer possível esconderijo constitui a melhor
maneira de obrigar a presa a sair,
expondo-se à captura. ""Se Bin Laden estiver vivo, estamos aplicando pressão suficiente para forçá-lo a se mover a todo momento",
disse o porta-voz. ""É mais fácil localizar um alvo móvel."
As unidades das Forças Especiais que lideram a caçada na região de fronteira se deslocam de
helicóptero ou em jipes camuflados, frequentemente seguidas por
grupos de soldados de capacete,
armados com fuzis de assalto.
Operando em áreas tribais onde
o clima é de grande desconfiança
em relação a pessoas vindas de fora, os soldados manifestam uma
tensão nervosa que deixa entrever
os riscos e a importância de sua
missão. Duas vezes nos últimos
30 dias eles abriram fogo contra
afegãos na região de Asadabad,
matando cinco homens locais.
Em uma ocasião, os americanos
atiraram depois que um homem
num veículo que estava de passagem pareceu estar atirando com
seu fuzil, enquanto eles faziam a
patrulha. As vítimas revelaram
ser parentes de um chefe tribal local que tivera conexões com o Taleban no passado. Muitos em
Asadabad, porém, dizem que os
americanos mataram homens
que não têm nenhum vínculo
atual com os militantes islâmicos.
Quem está do lado de quem
-em quem podem confiar e
quem devem enxergar como potenciais inimigos- é um enigma
que deixa os americanos perplexos desde sua chegada à região da
fronteira entre Afeganistão e Paquistão. De modo geral, eles vêm
confiando nos líderes tribais locais, mas as relações com eles podem ser instáveis.
Tropas americanas de ambos os
lados da fronteira vêm espalhando folhetos exortando os homens
das tribos a entregar a eles quaisquer ""terroristas" da Al Qaeda
que possam lhes pedir guarida e
anunciando o prêmio de US$ 25
milhões oferecido pelos EUA a
quem der informações que levem
à captura de Bin Laden.
Um folheto distribuído no último final de semana na cidade
fronteiriça paquistanesa de Torkham, escrito na língua pashtu,
falada pela maioria da população
na região da fronteira, dizia: ""O
Taleban e a Al Qaeda devastaram
seu país. Eles são seus inimigos e
nossos. Ajude-nos a capturá-los".
Em público, os comandantes
americanos continuam a dizer o
que já vêm falando há meses: que
Bin Laden e Zawahiri podem estar vivos ou podem estar mortos,
e que, se estiverem vivos, podem
estar no Afeganistão ou no Paquistão. Essas declarações fazem
parte de uma atitude geral de discrição adotada após o fracasso da
investida contra Tora Bora, no final do ano passado, quando o
Pentágono acreditou ter cercado
o líder da Al Qaeda nas cavernas
montanhosas a sudeste da cidade
afegã de Jalalabad, mas não encontrou nenhum rastro dele depois de pulverizar as cavernas
com bombardeios constantes.
Em meio às recriminações que
se seguiram, quando alguns oficiais americanos disseram que erros de estratégia teriam permitido
que Bin Laden fugisse para o Paquistão, a abordagem americana
mudou. Em lugar de declarar a
captura de Bin Laden e outros líderes da Al Qaeda como seu objetivo principal, os comandantes
americanos começaram a dizer
que a meta é inviabilizar a capacidade de ação da Al Qaeda.
Quando indagados sobre Bin
Laden e Zawahiri, os altos oficiais
americanos têm evitado dar respostas diretas, como fez o general
Tommy Franks, comandante-geral americano no Afeganistão e no
Paquistão. ""O que é certo é que
ainda não vimos provas convincentes de que Bin Laden e Zawahiri estejam mortos", ele disse aos
jornalistas no domingo, depois de
posar diante de uma grande bandeira americana para fazer um
discurso visando infundir ânimo
a alguns dos 7.800 militares americanos no Afeganistão.
Ele acrescentou: ""Será que vou
dizer onde acho que Bin Laden
pode estar neste momento? Não,
não vou. Eu não desejaria dar nenhum sinal de alerta a ninguém.
Na realidade, não sei se ele está vivo ou morto".
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Argentina: Menem nega ter aberto contas no exterior Próximo Texto: EUA acusam 4 árabes de complô terrorista Índice
|