São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Fracasso na busca ao saudita faz EUA dizerem que a meta é destruir Al Qaeda, mas país ainda espera pegá-lo

Caçada a Bin Laden frustra americanos

IAN FISHER
JOHN F. BURNS

DO ""THE NEW YORK TIMES" EM ASADABAD, AFEGANISTÃO

Após meses de frustração, comandantes americanos parecem ter concluído que Osama bin Laden provavelmente ainda está vivo e se desloca entre esconderijos nas montanhas situados em alguma parte de um trecho de 400 km de extensão da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
A busca por Bin Laden e seus homens, incluindo seu segundo em comando, Ayman Al Zawahiri, segue caminhos tão turvos quanto as águas dos rios que fluem pelas inóspitas montanhas da região. Quase um ano após o 11 de setembro e quase nove meses depois que pessoas ligadas a Bin Laden tornaram pública a última fita gravada que o mostrava comentando os ataques a Nova York e Washington, está muito difícil encontrar informações confiáveis sobre os principais líderes da Al Qaeda.
Mas alguns representantes americanos, falando extra-oficialmente, disseram que a premissa que move a caçada humana é a de que esses líderes ainda estejam vivos. Eles citam relatos -em sua maioria pouco detalhados- obtidos de fontes afegãs e paquistanesas que mencionam Bin Laden e uma comitiva de várias dúzias de homens que teriam se deslocado mais de uma vez desde o bombardeio americano às montanhas de Tora Bora, no final de 2001.
Alguns desses relatos, dizem oficiais americanos, sugerem que os fugitivos possam ter se deslocado pelas montanhas a cavalo, provavelmente em noites nubladas, para fugir da vigilância aérea. A região coberta pela busca abrange quatro Províncias afegãs -Kunar, Nangahar, Paktika e Paktia-, além de áreas tribais paquistanesas adjacentes.
Na época da maior batalha terrestre americana da guerra, em março, no vale do Shahikot, a 160 km a sudoeste de Cabul, comandantes americanos disseram que combatentes da Al Qaeda e do Taleban que opuseram resistência às tropas americanas por 11 dias poderiam estar protegendo ""um patrimônio de grande valor", ou seja, Bin Laden e Zawahiri. Depois da batalha, entretanto, não foi encontrado nenhum traço deles. Porta-vozes militares americanos disseram que alguns homens da Al Qaeda parecem ter fugido para o Paquistão.
Um porta-voz do comando americano disse que unidades das Forças Especiais enviadas a bases como a de Asadabad estão trabalhando com a premissa de que aplicar pressão a qualquer possível esconderijo constitui a melhor maneira de obrigar a presa a sair, expondo-se à captura. ""Se Bin Laden estiver vivo, estamos aplicando pressão suficiente para forçá-lo a se mover a todo momento", disse o porta-voz. ""É mais fácil localizar um alvo móvel."
As unidades das Forças Especiais que lideram a caçada na região de fronteira se deslocam de helicóptero ou em jipes camuflados, frequentemente seguidas por grupos de soldados de capacete, armados com fuzis de assalto.
Operando em áreas tribais onde o clima é de grande desconfiança em relação a pessoas vindas de fora, os soldados manifestam uma tensão nervosa que deixa entrever os riscos e a importância de sua missão. Duas vezes nos últimos 30 dias eles abriram fogo contra afegãos na região de Asadabad, matando cinco homens locais.
Em uma ocasião, os americanos atiraram depois que um homem num veículo que estava de passagem pareceu estar atirando com seu fuzil, enquanto eles faziam a patrulha. As vítimas revelaram ser parentes de um chefe tribal local que tivera conexões com o Taleban no passado. Muitos em Asadabad, porém, dizem que os americanos mataram homens que não têm nenhum vínculo atual com os militantes islâmicos.
Quem está do lado de quem -em quem podem confiar e quem devem enxergar como potenciais inimigos- é um enigma que deixa os americanos perplexos desde sua chegada à região da fronteira entre Afeganistão e Paquistão. De modo geral, eles vêm confiando nos líderes tribais locais, mas as relações com eles podem ser instáveis.
Tropas americanas de ambos os lados da fronteira vêm espalhando folhetos exortando os homens das tribos a entregar a eles quaisquer ""terroristas" da Al Qaeda que possam lhes pedir guarida e anunciando o prêmio de US$ 25 milhões oferecido pelos EUA a quem der informações que levem à captura de Bin Laden.
Um folheto distribuído no último final de semana na cidade fronteiriça paquistanesa de Torkham, escrito na língua pashtu, falada pela maioria da população na região da fronteira, dizia: ""O Taleban e a Al Qaeda devastaram seu país. Eles são seus inimigos e nossos. Ajude-nos a capturá-los".
Em público, os comandantes americanos continuam a dizer o que já vêm falando há meses: que Bin Laden e Zawahiri podem estar vivos ou podem estar mortos, e que, se estiverem vivos, podem estar no Afeganistão ou no Paquistão. Essas declarações fazem parte de uma atitude geral de discrição adotada após o fracasso da investida contra Tora Bora, no final do ano passado, quando o Pentágono acreditou ter cercado o líder da Al Qaeda nas cavernas montanhosas a sudeste da cidade afegã de Jalalabad, mas não encontrou nenhum rastro dele depois de pulverizar as cavernas com bombardeios constantes.
Em meio às recriminações que se seguiram, quando alguns oficiais americanos disseram que erros de estratégia teriam permitido que Bin Laden fugisse para o Paquistão, a abordagem americana mudou. Em lugar de declarar a captura de Bin Laden e outros líderes da Al Qaeda como seu objetivo principal, os comandantes americanos começaram a dizer que a meta é inviabilizar a capacidade de ação da Al Qaeda.
Quando indagados sobre Bin Laden e Zawahiri, os altos oficiais americanos têm evitado dar respostas diretas, como fez o general Tommy Franks, comandante-geral americano no Afeganistão e no Paquistão. ""O que é certo é que ainda não vimos provas convincentes de que Bin Laden e Zawahiri estejam mortos", ele disse aos jornalistas no domingo, depois de posar diante de uma grande bandeira americana para fazer um discurso visando infundir ânimo a alguns dos 7.800 militares americanos no Afeganistão.
Ele acrescentou: ""Será que vou dizer onde acho que Bin Laden pode estar neste momento? Não, não vou. Eu não desejaria dar nenhum sinal de alerta a ninguém. Na realidade, não sei se ele está vivo ou morto".


Tradução de Clara Allain


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