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Perfil explica número alto de vítimas
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O fato de que 75% das vítimas
dos conflitos políticos entre 1980 e
2000 no Peru eram indígenas explica, em parte, a surpresa pela divulgação de um número de mortos e desaparecidos mais que duas
vezes maior que o estimado inicialmente, na avaliação do jurista
Diego García-Sayán. Como ministro da Justiça do governo de
transição de Valentín Paniagua
(2000-2001), ele foi o responsável
pela instalação da Comissão Verdade e Reconciliação.
"As mortes se contavam por estatísticas, nem sempre com nomes, sobrenomes e rostos. Isso
produziu no Peru esses vários milhares de desaparecidos que, à diferença de outros países do Cone
Sul, não geraram um grande espaço de solidariedade social como houve na Argentina ou no
Chile, onde as vítimas eram de
classe média, profissionais, com
identidade conhecida", diz García-Sayán, chanceler no primeiro
ano do atual governo, de Alejandro Toledo, e atual diretor-geral
da Comissão Andina de Juristas.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu ontem à
Folha, por telefone, de Lima:
Folha - Após a divulgação do relatório, há perspectivas de punição
aos responsáveis?
Diego García-Sayán - A Justiça
tem que fazer sua parte, pois a impunidade é um problema grave,
que não pode ficar para as futuras
gerações. Não se trata de vingança
nem de aplicar os critérios de justiça que eram utilizados na época
de Alberto Fujimori [1990-2000],
quando não havia o devido processo e o direito à defesa. Esperamos que a Justiça possa investigar
com toda a objetividade e com os
direitos que correspondem aos
processados para determinar as
responsabilidades penais pelos
atos cometidos.
Folha - Existe alguma lei de anistia que possa impedir a justiça?
García-Sayán - As leis de anistia
que Fujimori promulgou para
proteger seus grupos paramilitares em 1995 foram declaradas inaplicáveis pelo governo de transição, em 2001, para restabelecer as
relações com a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Folha - A divisão das responsabilidades é aquela que se esperava?
García-Sayán - Mais além do detalhe das cifras, o relatório mostra
que o grande motor da violência e
dos assassinatos foi particularmente o Sendero Luminoso, entre
as organizações terroristas. Isso
dá a esse trabalho uma natureza
completamente diferente da de
outras comissões da verdade em
outros países da região, que investigaram basicamente violações e
assassinatos cometidos por ditaduras, no caso do Cone Sul, ou, na
América Central, por guerras civis que terminaram com acordos
de paz. Aqui vivemos um fenômeno gerado pelo terrorismo, a
partir do qual se fez esse exame,
que é mais complexo, porque é
um fenômeno que se viveu durante governos democráticos.
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