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ÁFRICA
Temerosas, pessoas deixam casas ao primeiro sinal de novos conflitos entre rebeldes e governo
Abrigo ou comida é dilema da fuga na Libéria
TIM WEINER
DO "NEW YORK TIMES", EM TOTOTA
"Há milhares de nós vindo pela
estrada", disse George J. Foday,
um professor de inglês que se tornou um refugiado apavorado.
"Outros milhares estão atrás."
Foday, 59, contou que, escondido na mata havia duas semanas,
viu tudo isso. Na terça-feira, ele
andou 30 km desde sua casa numa área rural da Libéria, ouvindo
barulhos de tiros e rumores de
guerra. Ele ainda pretendia andar
130 km até a capital, Monróvia.
Foday e inúmeros outros na região de Bong, o coração dessa nação sangrenta, são agora cerca de
750 mil -de uma população de 3
milhões- que têm deixado suas
casas em razão da guerra. Muitos
fugiram várias outras vezes. Então, quando as pessoas escutam
tiros, como ocorreu com o professor na terça-feira, elas não esperam a confirmação de que os rebeldes e as forças do governo estão lutando de novo. Elas fogem.
"Se você nunca foi picado por
cobra e uma minhoca se aproxima, você corre", disse Roosevelt
Dixon, 35, um eletricista de Katata, onde centenas fugiram após
rumores de ataques rebeldes.
Entre os que usavam a estrada
para Totota estava Esther Davis.
Com um bebê no colo, ela caminhava sob a neblina, com oito filhos descalços atrás. No domingo,
ela havia ido à uma igreja, 32 km
atrás, na cidade de Gbtala, quando ouviu o barulho de artilharia.
Ela não procurou saber quem
havia atirado. Isso não importa.
"Existia um cessar-fogo", disse
Davis, quase chorando. "Por que
estão lutando?" Não há paz na
área rural da Libéria, depois de 14
anos de conflitos. Nem mais guerra -não exatamente. O Ministério da Defesa, as forças de paz do
oeste africano e a Embaixada dos
EUA dizem não poder confirmar
os rumores de novos combates.
Nenhum novo refugiado disse
também ter visto conflitos de verdade nos últimos dias. Mas todos
contaram que haviam visto milícias do governo fugindo dos rebeldes. Os dois lados usam o prenúncio da guerra para expulsar as
pessoas e roubar o que deixam.
Davis, 35, e suas nove crianças,
andando havia 24 horas, encaravam uma escolha difícil. Poderiam se juntar aos 60 mil refugiados acampados entre Totota e a
próxima cidade, Salala, ou andar
dias até Monróvia e esperar pela
paz. Na capital, há comida, mas
dificilmente um lugar para ficar.
Onde estavam, há lugar para se
abrigar, mas dificilmente comida.
Os locais para ficar estão em
quatro campos de refugiados,
montados desde março. Eles têm
água potável, cabanas e enfermarias, mas não recebiam suprimentos de comida desde maio. Os refugiados andavam cinco ou seis
horas pela mata para procurar o
quê comer e o mesmo para voltar.
Totota abriga o mais distante
posto de ajuda internacional na
Libéria, representado por um médico, um enfermeiro e uma encarregada, de sandálias, todos da entidade Médicos Sem Fronteiras.
"Há muita subnutrição; 80%
das pessoas têm malária", disse a
francesa Anabelle Gazet, 30, a encarregada. Um suprimento de comida para duas semanas deveria
chegar a Salala na quarta-feira. Se
isso ocorresse, seria o mais distante aonde os representantes da
ONU iriam desde o início, em junho, do último ciclo de combates.
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