São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O "HERÓI"

Procurado por Israel, Zubeidi deixa esconderijo para mostrar onde matou 13 israelenses

Terrorista é tratado como astro em Jenin

Fábio Zanini
Zubeidi (de camisa branca) é cercado por admiradores em Jenin


FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM JENIN

Metralhadora a tiracolo, Zacharia Zubeidi foi recebido como um "popstar" pelos palestinos que lotavam o centro comunitário do campo de refugiados de Jenin, norte da Cisjordânia, na terça-feira, 3 de agosto.
Das janelas das casas que restam de pé, pessoas acenavam para o cortejo de mais de cem pessoas que caminhavam pelas ruas e ladeiras irregulares, com lixo acumulado por todo lado.
Aos 29 anos, Zubeidi é o principal líder das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, grupo terrorista identificado com o Fatah, facção de Iasser Arafat. Israel o coloca no topo da lista de terroristas procurados; mas, para muitos palestinos, ele é um herói.
Seu status em Jenin é de um Che Guevara local. Circulam histórias de como escapou de uma emboscada com três tiros no ombro e ainda matou os cinco israelenses que o cercavam. O rosto traz marcas de queimaduras causadas por uma explosão.
Zubeidi vive escondido. Naquele dia, abriu exceção e recebeu 40 estrangeiros que visitavam os territórios palestinos com uma ONG britânica, entre eles o repórter da Folha. Sob escolta armada, guiou-os por um passeio no campo de refugiados de 10 mil habitantes.
Jenin orgulha-se de ser a "capital palestina dos mártires", imagem que se consolidou há dois anos, quando um conflito com o Exército israelense deixou o local arrasado. As imagens e o saldo da batalha correram o mundo: 482 casas destruídas, 5.000 pessoas desabrigadas, 23 soldados israelenses e 59 palestinos mortos.
"Estamos reconstruindo tudo. A resistência continua", disse Zubeidi, a mão de tez escura apontando para montanhas de cimento ao longo do caminho, dezenas de canteiros de obras.
Sempre nos flancos do trajeto, dois subcomandantes das Brigadas, armados com fuzis M-16 e falando em rádios o tempo todo, protegiam, fardados, o cortejo.
Ao entrar em uma viela, o guerrilheiro fez uma parada: "Aqui matamos 13 israelenses, que atraímos para uma cilada. Abrimos fogo do alto das casas". Muitos aplaudiram. Zubeidi é da ala leal a Arafat e diz liderar uma força com 200 homens. De acordo com a imprensa israelense, estaria envolvido na recente onda de violência, tendo ordenado o incêndio de prédios públicos em Jenin usados por adversários do líder palestino.
Questionado sobre o tema pela Folha, culpou os israelenses pelo caos: "Estão tentando nos dividir. Há muita gente na Palestina a serviço do inimigo, espionando e nos traindo. Arafat é um grande líder, devemos estar todos a seu lado".
O passeio de uma hora terminou no cemitério dos "mártires". Ao despedir-se, Zubeidi pediu que todos se afastassem e, no que foi anunciado como um gesto de cortesia com os visitantes, deu tiros para o alto. Acenou, sentou-se no banco de passageiro de uma van azul, parecida com as lotações que circulam nas grandes metrópoles brasileiras, e sumiu. (FZ)


Texto Anterior: Refugiados de Chatila reverenciam Arafat
Próximo Texto: Cáucaso: Tchetchênia escolhe presidente sob ameaça rebelde
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.