São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2006

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Um ano após Katrina, Bush volta à cena da tragédia

Tempestade provocada por passagem do furacão matou 1.600, pelo último balanço

Apesar dos US$ 110 bi dados a reconstrução e assistência, um terço dos detritos está por remover e metade da população não retornou

RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT", EM NOVA ORLEANS

A tempestade que devastou a costa do golfo do México, nos EUA, e causou danos terríveis a uma das mais célebres cidades americanas pode ter mudado para sempre a percepção nacional quanto ao presidente.
Hoje, George W. Bush volta a Nova Orleans, exatamente um ano depois do furacão Katrina, em sua 13ª visita desde a tempestade, para um aniversário designado como dia nacional de luto. O Katrina não só foi o mais dispendioso desastre da história norte-americana, deixando às seguradoras uma conta de mais de US$ 60 bilhões pela destruição causada em Louisiana, Mississippi e Alabama, como registrou custos emocionais, humanos e econômicos ainda mais elevados.
Cerca de 1.600 mortes foram atribuídas à tempestade, pelo cômputo mais recente. Algumas comunidades costeiras na região do golfo do México foram virtualmente varridas do mapa. Milhares de edifícios históricos em cidades como Bilox (Mississippi) se perderam.
Em Nova Orleans, metade dos 500 mil habitantes que a cidade abrigava antes do Katrina continuam ausentes, e muitos deles decerto não voltarão. Ray Nagin, o prefeito, diz que recuperar a população levará cinco anos, mas a estimativa talvez seja otimista. A maioria dos que se foram eram negros e pobres, com pouco interesse financeiro em uma cidade que, antes do furacão, e por muito tempo, poderia ser classificada como uma das mais mal administradas do país. Na ausência deles, é inevitável que o caráter de Nova Orleans se altere, tanto em termos culturais quanto étnicos.
Um ano depois do furacão, um terço dos detritos ainda está por remover. Imensas porções do Ninth Ward, região ao leste do centro da cidade, e do bairro francês mantêm a mesma aparência que tinham quando as águas baixaram, em outubro do ano passado. Elas não foram reconstruídas. Provavelmente, nunca serão. O mesmo se aplica à posição do presidente, que prometerá uma vez mais hoje promover a reconstrução da cidade, jurando que o país "nunca mais" estará despreparado para tamanha catástrofe.

Promessas por cumprir
Nos dias terríveis que se seguiram à tempestade, as autoridades não pareciam capazes de avaliar a escala do desastre, a despeito das imagens apocalípticas trazidas pela TV e da exasperação que os repórteres não conseguiam disfarçar em suas aparições diante das câmeras.
De lá para cá, as coisas vêm melhorando, mas muito vagarosamente. O Congresso alocou US$ 110 bilhões ao esforço de assistência e reconstrução. Mas não se sabe ao certo que porção dessa verba foi gasta.
Planos para a habitação foram desenvolvidos, e o Congresso aprovou uma lei criando uma zona de incentivo fiscal na região. Mas o foco está nas propriedades privadas, e não nas habitações públicas em que os pobres de Nova Orleans viviam.
E as demais promessas delineadas pelo presidente em 15 de setembro, quando fez um discurso no horário nobre da TV, tampouco foram cumpridas. As barragens foram reconstruídas, mas não de forma a suportar um furacão categoria cinco, a intensidade que o Katrina atingiu por um breve período antes de chegar à costa em 29 de agosto de 2005.
Em outras palavras, a inundação de Nova Orleans, uma das calamidades mais previstas por especialistas em desastres naturais, poderia ocorrer de novo, sobretudo se as mais sombrias previsões sobre o aquecimento global e suas conseqüências se confirmarem.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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