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Um ano após Katrina, Bush volta à cena da tragédia
Tempestade provocada por passagem do furacão matou 1.600, pelo último balanço
Apesar dos US$ 110 bi dados a reconstrução e assistência, um terço dos detritos está por remover e metade da população não retornou
RUPERT CORNWELL
DO "INDEPENDENT", EM NOVA ORLEANS
A tempestade que devastou a
costa do golfo do México, nos
EUA, e causou danos terríveis a
uma das mais célebres cidades
americanas pode ter mudado
para sempre a percepção nacional quanto ao presidente.
Hoje, George W. Bush volta a
Nova Orleans, exatamente um
ano depois do furacão Katrina,
em sua 13ª visita desde a tempestade, para um aniversário
designado como dia nacional
de luto. O Katrina não só foi o
mais dispendioso desastre da
história norte-americana, deixando às seguradoras uma conta de mais de US$ 60 bilhões
pela destruição causada em
Louisiana, Mississippi e Alabama, como registrou custos
emocionais, humanos e econômicos ainda mais elevados.
Cerca de 1.600 mortes foram
atribuídas à tempestade, pelo
cômputo mais recente. Algumas comunidades costeiras na
região do golfo do México foram virtualmente varridas do
mapa. Milhares de edifícios
históricos em cidades como Bilox (Mississippi) se perderam.
Em Nova Orleans, metade
dos 500 mil habitantes que a cidade abrigava antes do Katrina
continuam ausentes, e muitos
deles decerto não voltarão. Ray
Nagin, o prefeito, diz que recuperar a população levará cinco
anos, mas a estimativa talvez
seja otimista. A maioria dos que
se foram eram negros e pobres,
com pouco interesse financeiro
em uma cidade que, antes do
furacão, e por muito tempo, poderia ser classificada como uma
das mais mal administradas do
país. Na ausência deles, é inevitável que o caráter de Nova Orleans se altere, tanto em termos
culturais quanto étnicos.
Um ano depois do furacão,
um terço dos detritos ainda está por remover. Imensas porções do Ninth Ward, região ao
leste do centro da cidade, e do
bairro francês mantêm a mesma aparência que tinham
quando as águas baixaram, em
outubro do ano passado. Elas
não foram reconstruídas. Provavelmente, nunca serão.
O mesmo se aplica à posição
do presidente, que prometerá
uma vez mais hoje promover a
reconstrução da cidade, jurando que o país "nunca mais" estará despreparado para tamanha catástrofe.
Promessas por cumprir
Nos dias terríveis que se seguiram à tempestade, as autoridades não pareciam capazes de
avaliar a escala do desastre, a
despeito das imagens apocalípticas trazidas pela TV e da exasperação que os repórteres não
conseguiam disfarçar em suas
aparições diante das câmeras.
De lá para cá, as coisas vêm
melhorando, mas muito vagarosamente. O Congresso alocou US$ 110 bilhões ao esforço
de assistência e reconstrução.
Mas não se sabe ao certo que
porção dessa verba foi gasta.
Planos para a habitação foram
desenvolvidos, e o Congresso
aprovou uma lei criando uma
zona de incentivo fiscal na região. Mas o foco está nas propriedades privadas, e não nas
habitações públicas em que os
pobres de Nova Orleans viviam.
E as demais promessas delineadas pelo presidente em 15
de setembro, quando fez um
discurso no horário nobre da
TV, tampouco foram cumpridas. As barragens foram reconstruídas, mas não de forma
a suportar um furacão categoria cinco, a intensidade que o
Katrina atingiu por um breve
período antes de chegar à costa
em 29 de agosto de 2005.
Em outras palavras, a inundação de Nova Orleans, uma
das calamidades mais previstas
por especialistas em desastres
naturais, poderia ocorrer de
novo, sobretudo se as mais
sombrias previsões sobre o
aquecimento global e suas conseqüências se confirmarem.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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