São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 2008

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Morales convoca referendo sobre nova Carta boliviana

Presidente marca consulta para dezembro, enfrentando resistência de governadores

Ministro confirma que comitiva de mandatário se viu forçada anteontem a recorrer a aeroporto em Rondônia por segurança


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente boliviano, Evo Morales, convocou ontem à noite um referendo nacional para ratificar a nova Constituição, considerada ilegítima por seus opositores. A consulta, marcada para 7 de dezembro, deve acirrar ainda mais a crise política e institucional do país.
O decreto, lido pelo ministro Juan Ramón Quintana (Casa Civil), praticamente enterra as chances de um diálogo entre governo e oposição esboçado depois do referendo revogatório do último dia 10, no qual Morales foi ratificado no cargo com um apoio supreeendente de 67% dos votos válidos.
"Nesta luta histórica pela refundação da Bolívia, pela primeira vez o povo boliviano participa na redação desta nova Constituição mediante seus constituintes, e pela primeira vez uma Constituição é submetida ao voto do povo boliviano", discursou Morales.
Além do referendo, o decreto também prevê uma pergunta sobre a extensão dos latifúndios sujeitos à desapropriação. Nos departamentos de La Paz e Cochabamba, haverá a eleição de novos governadores, já que os eleitos em 2005 tiveram o mandato cassado no referendo ocorrido há 19 dias.
Anteontem, governadores e líderes empresariais de Santa Cruz, Tarija, Beni, Pando e Chuquisaca prometeram impedir a realização do referendo sobre a nova Carta.
"Chegou-se ao acordo de que, caso o governo queira impor seu referendo ilegal, os cinco departamentos não admitirão sua realização em seus territórios", disse o governador de Tarija, Mario Cossío, na saída do encontro, na cidade de Villamontes, perto da Argentina.
A nova Constituição foi aprovada em dezembro apenas por governistas, em Oruro, sob forte segurança por causa dos protestos de oposicionistas, que acusam Morales de centralizar o poder em La Paz e defendem maior independência administrativa para os departamentos.

Escala no Brasil
O governo boliviano confirmou ontem que Morales foi obrigado, na véspera, a usar o aeroporto brasileiro de Guajará-Mirim (RO) para voltar a La Paz devido a de protestos de opositores no departamento de Beni (norte amazônico).
"A informação que tivemos é que um grupo de jovens não permitiram o reabastecimento [do helicóptero]. Por isso, buscamos a melhor solução, que era ir a Guajará-Mirim, porque seu aeroporto dava toda a segurança", disse à rádio boliviana Erbol o ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas.
Segundo a Folha apurou, Morales, que visitava a cidade de Cachuela Esperanza, próxima à fronteira, foi aconselhado a dormir em território brasileiro por questões de segurança, mas preferiu voltar a La Paz. Ele embarcou anteontem num avião da Força Aérea boliviana às 22h30, horário de Brasília.
Ao longo dos últimos meses, manifestantes anti-Morales têm invadido aeroportos nos departamentos controlados pela oposição para impedir viagens oficiais. O incidente mais grave ocorreu quando os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Cristina Kirchner(Argentina) foram impedidos de aterrissar na cidade de Tarija.

Com agências internacionais



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