São Paulo, Domingo, 29 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

60 ANOS DEPOIS
Apesar de amplamente estudado, o maior conflito da humanidade ainda é fonte de controvérsias
Segunda Guerra ainda é fonte de mitos


RICARDO BONALUME NETO
especial para a Folha

Mesmo 60 anos depois do início da Segunda Guerra Mundial, aquele que foi o maior conflito da história humana permanece como uma fonte inesgotável de mitos e controvérsias.
Desde que as tropas alemãs do ditador Adolf Hitler invadiram a Polônia, em 1º de setembro de 1939, milhares de livros foram publicados sobre o conflito.
Ainda assim, há quem diga, como o historiador militar John Keegan, que "a história da Segunda Guerra Mundial ainda não foi escrita. Talvez o seja no próximo século".
Apesar dessa opinião de Keegan, autor de vários best sellers sobre o conflito, é improvável que descobertas espetaculares sejam feitas no futuro.
Os historiadores já vasculharam os arquivos disponíveis nos principais países beligerantes, e mesmo documentos secretos polêmicos já se tornaram acessíveis.
A última grande revelação sobre a guerra, capaz de forçar reavaliações da sua história, foi a divulgação, em 1974, de que os aliados ocidentais tinham quebrado o código secreto das transmissões de rádio alemãs.
Graças a essas mensagens interceptadas, que receberam o codinome "Ultra", foi possível aos aliados conhecer com antecedência os planos dos alemães em momentos cruciais.
As mensagens Ultra foram particularmente importantes para derrotar os submarinos alemães no Atlântico. Sem o domínio dos mares, não seria possível transportar para a Europa os exércitos americanos.
O Ultra foi certamente o mais importante segredo da guerra, apesar de ocasionalmente surgirem livros inventando teorias conspiratórias -a mais clássica afirma que o presidente dos EUA Franklin Roosevelt sabia que os japoneses atacariam a base americana de Pearl Harbor e nada fez porque queria levar seu país à guerra (nunca se achou a menor pista dessa hipótese).
Até o Brasil não escapa de mitos. O país entrou na guerra depois que submarinos alemães afundaram vários navios brasileiros. Mesmo depois de longamente mostrado que os submarinos eram alemães, há quem acredite que foram os americanos os responsáveis, interessados em levar o país à guerra.
Fatos conhecidos há muitos anos pelos historiadores -como a existência de planos de contingência americanos para ocupar bases no Nordeste em caso de recusa de ajuda brasileira-, volta e meia são retratados como novas "descobertas".
O que certamente vai continuar existindo são interpretações "revisionistas", que prometem alimentar polêmicas sobre certos incidentes da guerra. E algumas áreas ainda relativamente menos conhecidas deverão merecer novos estudos.
As controvérsias dizem respeito à própria origem da guerra, às estratégias dos beligerantes, ao papel dos líderes e a incidentes específicos.

Texto Anterior: José Ramos-Horta: Transição em Timor Leste exigirá tolerância
Próximo Texto: Invasão pôs "Blitzkrieg" no vocabulário
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.