São Paulo, Domingo, 29 de Agosto de 1999
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GUERRA-RELÂMPAGO
Termo se refere à rápida e vitoriosa campanha dos alemães na Polônia em setembro de 1939
Invasão pôs "Blitzkrieg" no vocabulário

especial para a Folha

Uma palavra passou para o vocabulário mundial em setembro de 1939: "Blitzkrieg", guerra-relâmpago em alemão. A palavra descrevia a rápida e letal campanha que foi a conquista da Polônia em apenas um mês. Curiosamente, no entanto, não foi criada pelos alemães.
Segundo o historiador Dennis Showalter, o primeiro uso dessa palavra em uma publicação em inglês foi um artigo na revista "Time" de 25 de setembro de 1939, que discutia a derrota polonesa.
"O termo Blitzkrieg nunca foi usado no título de nenhum manual militar alemão, nem se encontra muito nas memórias ou na correspondência dos generais alemães", afirmou Showalter.
"Nossos inimigos cunharam a palavra", disse o general alemão Heinz Guderian, considerado o pai da moderna guerra de blindados. O termo "guerra-relâmpago" virou moda também porque dois famosos estrategistas britânicos, Basil Liddel Hart e J.F.C. Fuller, argumentaram que os alemães tinham se baseado em seus escritos sobre guerra de movimento (o que é um grande exagero).
A campanha da Polônia foi a primeira em que a combinação de rápidos avanços de forças blindadas apoiadas pela aviação causou a rápida desintegração do Exército inimigo.
A Blitzkrieg se deveu a desenvolvimentos tecnológicos, como a mobilidade proporcionada pelos blindados e a capacidade de comunicação rápida proporcionada pelo rádio. Mas só a tecnologia não explica as vitórias alemãs. Os franceses e os britânicos também tinham bons tanques, mas tendiam a dispersá-los, em vez de concentrá-los em divisões blindadas como faziam os alemães.
Vencida a Polônia, parte de seu território a leste foi ocupado pelos soviéticos. Foi mais uma repartição do território polonês pelos vizinhos, como já acontecera no passado. A Polônia fora recriada depois da Primeira Guerra, em território que pertencera à Alemanha e à Rússia.
Uma das polêmicas mais antigas na historiografia é a causa da guerra na Europa. O historiador A.J.P. Taylor argumenta, em seu clássico livro de 1962 "As Origens da Segunda Guerra Mundial", que a guerra ocorreu por um erro de cálculo de Hitler.
O líder alemão seria um oportunista que havia conseguido obter ganhos como a incorporação da Áustria e da então Tchecoslováquia sem provocar uma guerra contra França e Reino Unido. Ele teria achado que os dois aliados ocidentais também consentiriam com sua conquista da Polônia, ainda mais que também tinha assinado um pacto de não-agressão com a União Soviética.
Contra os argumentos de Taylor está a evidência do livro que Hitler escreveu antes da guerra, "Mein Kampf" (Minha Luta), no qual ele já mostra seus desejos de destruir aqueles que considerava inferiores, como os eslavos e os judeus. "Hitler desejava, queria, suspirava pela guerra e pela desolação que ela traz", escreveu outro autor de um livro sobre as origens da guerra ("How War Came", como a guerra veio), Donald Watt.
Existe uma linha revisionista que afirma que Hitler seria apenas mais um estadista alemão e que teria sido melhor para o Reino Unido fazer as pazes com a Alemanha depois que esta conquistara a França em 1940.
Para o polêmico historiador inglês David Irving, Hitler não era um monstro, e sim um líder como qualquer outro, lutando pelo interesse de seu país como o seu rival britânico Winston Churchill ou o americano Roosevelt.
Irving também tentou empanar o brilho de Churchill, retratando o primeiro-ministro britânico como um belicista sanguinário.
A avaliação do papel dos grandes líderes políticos e militares da guerra é um ponto em que as controvérsias nunca vão acabar. Um dos motivos é o papel-chave que eles tiveram na guerra. (RBN)


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