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INDONÉSIA
Laudo médico diz que ex-ditador não teria condição física e mental de enfrentar julgamento; decisão provoca protestos
Justiça rejeita processo contra Suharto
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
A Justiça da Indonésia decidiu
ontem que o ex-ditador Suharto,
79, não irá enfrentar um processo
por corrupção porque supostamente se encontra muito doente.
Suharto era acusado de desviar
pelo menos US$ 550 milhões de
sete instituições de assistência social que controlava para suas contas e para as contas de seus familiares e amigos durante os 32 anos
em que governou o país (1966-1998). Ele nega que tenha feito
qualquer espécie de desvio de dinheiro.
O governo de Suharto -que se
autonomeou o "pai do desenvolvimento"- foi marcado por
avanço econômico, por corrupção maciça e por diversas violações aos direitos humanos. Estima-se que, junto com sua família,
Suharto disponha de uma fortuna
de aproximadamente US$ 45 bilhões.
Além de acatar a decisão médica, o tribunal também liberou Suharto da prisão domiciliar à qual
estava submetido desde maio
deste ano e suspendeu as restrições a viagens que haviam sido
impostas ao ex-ditador desde
abril. O procurador-geral da Indonésia, Marzuki Darusman, disse que "não foi feita justiça" e
anunciou ontem que irá recorrer
da decisão dos juízes.
A decisão dos cinco magistrados de encerrar o processo anulou
os esforços feitos pelos opositores
do ex-ditador, que exigiam que
Suharto fosse punido por anos de
abuso de poder.
Os médicos informaram ao tribunal que Suharto já sofreu três
derrames cerebrais desde que deixou o poder, em 1998, que ele possui atualmente a compreensão de
uma criança e que não possuía
condições físicas e mentais para
enfrentar um processo judicial.
"A Corte decidiu que o processo
contra Suharto não pode ser aceito", disse Lalu Mariyun, um dos
cinco magistrados. "Sendo assim,
o caso está encerrado", afirmou.
Reação nas ruas
A decisão provocou fúria em
centenas de pessoas, que saíram
às ruas para reivindicar punição
ao ex-ditador e enfrentaram a polícia e simpatizantes de Suharto
sob uma forte chuva.
Pelo menos um homem morreu
em consequência da violência que
varreu as ruas de Jacarta. Os manifestantes lançaram coquetéis
Molotov e pedras contra a polícia,
e dezenas ficaram feridos.
Estudantes tentaram se aproximar da luxuosa casa do ex-ditador, no centro de Jacarta. A polícia impediu a aproximação com
bombas de gás lacrimogêneo.
Membros de um grupo favorável
a Suharto afirmaram que receberam 200 mil rupias (US$ 20) para
proteger a região próxima à casa
do ex-ditador.
"Todos os médicos mentem",
disse Zul Sikri, um dos manifestantes. "Suharto deve ser preso.
Nós continuaremos nos manifestando até que isso ocorra", acrescentou. Dezenas de estudantes foram hospitalizados, e dois jornalistas foram feridos pela polícia.
Atentados
O processo de julgamento de
Suharto foi marcado por diversas
explosões. Há duas semanas uma
bomba explodiu e deixou pelo
menos 15 vítimas.
Simpatizantes de Suharto assumiram um atentado, ocorrido na
noite de quarta-feira, contra uma
organização de proteção dos direitos humanos.
Apesar de Suharto poder ser
inocentado, seu filho mais novo,
Hutomo "Tommy" Mandala Putra, deverá ser preso na segunda-feira por tráfico de influência. Caso Tommy seja realmente preso, a
ira dos adversários de Suharto deverá ser ao menos parcialmente
aplacada. Seria a primeira prisão
de um parente do ex-ditador.
Analistas afirmam que somente
um indulto do presidente Addurrahman Wahid poderia livrar
Tommy da cadeia. A hipótese, no
entanto, é improvável, uma vez
que Wahid pediu há duas semanas a prisão do filho do ex-mandatário por suspeitar de que ele
estivesse envolvido nos recentes
atentados a bomba ocorridos em
Jacarta.
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