São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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INDONÉSIA
Laudo médico diz que ex-ditador não teria condição física e mental de enfrentar julgamento; decisão provoca protestos
Justiça rejeita processo contra Suharto

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Justiça da Indonésia decidiu ontem que o ex-ditador Suharto, 79, não irá enfrentar um processo por corrupção porque supostamente se encontra muito doente.
Suharto era acusado de desviar pelo menos US$ 550 milhões de sete instituições de assistência social que controlava para suas contas e para as contas de seus familiares e amigos durante os 32 anos em que governou o país (1966-1998). Ele nega que tenha feito qualquer espécie de desvio de dinheiro.
O governo de Suharto -que se autonomeou o "pai do desenvolvimento"- foi marcado por avanço econômico, por corrupção maciça e por diversas violações aos direitos humanos. Estima-se que, junto com sua família, Suharto disponha de uma fortuna de aproximadamente US$ 45 bilhões.
Além de acatar a decisão médica, o tribunal também liberou Suharto da prisão domiciliar à qual estava submetido desde maio deste ano e suspendeu as restrições a viagens que haviam sido impostas ao ex-ditador desde abril. O procurador-geral da Indonésia, Marzuki Darusman, disse que "não foi feita justiça" e anunciou ontem que irá recorrer da decisão dos juízes.
A decisão dos cinco magistrados de encerrar o processo anulou os esforços feitos pelos opositores do ex-ditador, que exigiam que Suharto fosse punido por anos de abuso de poder.
Os médicos informaram ao tribunal que Suharto já sofreu três derrames cerebrais desde que deixou o poder, em 1998, que ele possui atualmente a compreensão de uma criança e que não possuía condições físicas e mentais para enfrentar um processo judicial.
"A Corte decidiu que o processo contra Suharto não pode ser aceito", disse Lalu Mariyun, um dos cinco magistrados. "Sendo assim, o caso está encerrado", afirmou.

Reação nas ruas
A decisão provocou fúria em centenas de pessoas, que saíram às ruas para reivindicar punição ao ex-ditador e enfrentaram a polícia e simpatizantes de Suharto sob uma forte chuva.
Pelo menos um homem morreu em consequência da violência que varreu as ruas de Jacarta. Os manifestantes lançaram coquetéis Molotov e pedras contra a polícia, e dezenas ficaram feridos.
Estudantes tentaram se aproximar da luxuosa casa do ex-ditador, no centro de Jacarta. A polícia impediu a aproximação com bombas de gás lacrimogêneo. Membros de um grupo favorável a Suharto afirmaram que receberam 200 mil rupias (US$ 20) para proteger a região próxima à casa do ex-ditador.
"Todos os médicos mentem", disse Zul Sikri, um dos manifestantes. "Suharto deve ser preso. Nós continuaremos nos manifestando até que isso ocorra", acrescentou. Dezenas de estudantes foram hospitalizados, e dois jornalistas foram feridos pela polícia.

Atentados
O processo de julgamento de Suharto foi marcado por diversas explosões. Há duas semanas uma bomba explodiu e deixou pelo menos 15 vítimas.
Simpatizantes de Suharto assumiram um atentado, ocorrido na noite de quarta-feira, contra uma organização de proteção dos direitos humanos.
Apesar de Suharto poder ser inocentado, seu filho mais novo, Hutomo "Tommy" Mandala Putra, deverá ser preso na segunda-feira por tráfico de influência. Caso Tommy seja realmente preso, a ira dos adversários de Suharto deverá ser ao menos parcialmente aplacada. Seria a primeira prisão de um parente do ex-ditador.
Analistas afirmam que somente um indulto do presidente Addurrahman Wahid poderia livrar Tommy da cadeia. A hipótese, no entanto, é improvável, uma vez que Wahid pediu há duas semanas a prisão do filho do ex-mandatário por suspeitar de que ele estivesse envolvido nos recentes atentados a bomba ocorridos em Jacarta.


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