São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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TRAGÉDIA NO HAITI

Grupo armado controla porto e impede chegada de ajuda da ONU

Gonaives sofre com ação de gangues

Mehdi Fedouach/France Presse
Haitianos pilham caminhão carregado de água, em Gonaives


PAISLEY DODDS
DA ASSOCIATED PRESS, EM GONAIVES

As gangues de rua estão retendo comboios de ajuda, atacando a distribuição de mantimentos, invadindo casas para roubar comida e atirando em qualquer um que entre no caminho, deixando dezenas de milhares de sobreviventes da inundação provocada pelo furacão Jeanne ameaçados de morrer, agora por falta de alimento e de água.
"As pessoas estão inseguras e têm de lutar por qualquer coisa", disse Rony Coq, 30, da gangue Exército da Garrafa -seus membros costumam jogar garrafas contra inimigos.
A gangue de Coq opera em Cassolet, um emaranhado de casas precárias de concreto que ainda estava atolado em até cinco metros de lama ontem -dez dias depois da passagem do Jeanne.
Ali perto, uma vértebra humana sobressaía de uma pilha de barro, em meio a cadáveres de vítimas da enchente que os moradores enterraram porque estavam apodrecendo a céu aberto.
A ONU afirma que mais de 1.500 pessoas morreram e cerca de 900 estão desaparecidas. Teme-se que muitos corpos tenham sido levados para o mar e que outros estejam sob casas desmoronadas em áreas ainda inacessíveis.
O canadense John Harrison, chefe da segurança da missão da ONU no Haiti, disse que ele planejava usar o porto de Gonaives para receber mantimentos, mas que a área está sob controle de homens armados. "Há um grande problema com as gangues. Acho que a situação pode ficar pior."
Ontem, apenas 40 pessoas haviam formado uma linha para receber comida num centro de distribuição onde brasileiros da força de paz da ONU tiveram de disparar para o alto na véspera para controlar centenas de pessoas que tentaram saquear o local.
"É muito difícil conseguir comida. As pessoas estão ficando muito frustradas", disse Manette Jean, 31, mãe de cinco filhos.


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