São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vice de Powell diz que eleições são viáveis, mas prevê "perturbação"

JEAN-PIERRE STROOBANTS
DO "LE MONDE", EM WASHINGTON

O número dois da diplomacia americana, Richard Armitage, um dos "falcões" da administração do presidente George W. Bush, defendeu a realização das eleições no Iraque. O vice-secretário de Estado, porém, não descarta um aumento da violência "por parte daqueles que querem perturbar tanto a nossa eleição [presidencial nos EUA], como o escrutínio no Iraque".
 

Pergunta - Como o sr. descreveria a situação no Iraque? Richard Armitage - Após o 11 de Setembro, o presidente [Bush] sentiu que, cedo ou tarde, seríamos envolvidos em um conflito no Iraque. Ele fez um raciocínio levando em conta a questão de nossa segurança nacional. Continuamos convencidos de que a democracia e as eleições são possíveis para os iraquianos e também de que elas são desejadas pela maioria deles.

Pergunta - Mas os seqüestros se multiplicam... Armitage - É uma situação com a qual já nos defrontamos. O fenômeno novo é a aliança entre terroristas e criminosos.

Pergunta - As eleições previstas para janeiro poderão acontecer, levando em conta a atual situação de insegurança? Armitage - Para mim, continua a ser desejável que os iraquianos possam ir às urnas em todo o país. Em todo caso, prevemos um aumento da violência por parte daqueles que querem perturbar tanto a nossa eleição, como fizeram na Espanha, como o escrutínio no Iraque, que eles não desejam de maneira alguma.

Pergunta - O sr. acha que os iraquianos continuam a ser gratos aos EUA por tê-los libertados? Armitage - O primeiro-ministro Iyad Allawi, diante do Congresso, agradeceu aos Estados Unidos e às famílias dos soldados mortos de maneira extremamente comovente. A maioria dos iraquianos e de seus vizinhos está muito feliz por ter sido libertos de Saddam Hussein. Hoje falta restabelecer a segurança, por difícil que seja.

Pergunta - Os curdos estão expulsando os árabes e há outros incidentes. Existe o perigo de uma guerra civil? Armitage - Espoliados e expropriados sob o regime de Saddam Hussein, os curdos estão tentando corrigir essa situação. Não estamos falando ainda no risco de uma guerra civil, um fenômeno pelo qual, historicamente falando, o Iraque nunca passou.

Pergunta - O sr. é favorável à idéia de que um papel maior seja dado à Otan no futuro? Armitage - Eu ficaria felicíssimo se a aliança assumisse outras missões além daquela -que já é muito importante- que ela vai assumir [treinar forças de segurança], depois que todos os membros assinalaram sua concordância.

Pergunta - Que tipo de democracia os EUA esperam ""vender" aos iraquianos? Armitage - Você sabe, a democracia americana só autorizou o voto feminino em 1965, e o atual secretário de Estado [Colin Powell, negro] não teria podido votar nessa época. A democracia é um processo lento.

Pergunta - A situação continua tensa no Afeganistão. O que pode acontecer se Hamid Karzai, apoiado pelos EUA, não for eleito? Armitage - Trabalhamos com todos os governos eleitos. De qualquer forma, estamos satisfeitos. Podemos sentir orgulho pelo fato de uma coalizão internacional ter conseguido instaurar confiança e segurança suficientes para que essa eleição se realize.

Pergunta - A poucas semanas para a eleição presidencial nos EUA, qual é a principal lição a tirar? Armitage - Teremos aprendido que ninguém -tampouco nós mesmos- acha que somos a polícia do planeta. Entretanto, a cada vez que surge um problema, somos nós os chamados. Isso não facilita nossa posição. Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: FBI deixa de avaliar pistas sobre terrorismo por falta de tradutores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.