São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Premiê diz, porém, que não se arrepende de ter derrubado o ditador e que ação deixou o mundo mais seguro

Blair admite erro sobre arsenal de Saddam

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, desculpou-se ontem, durante a conferência anual do Partido Trabalhista, por ter acreditado em informações equivocadas sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque.
Mas afirmou que o mundo estava mais seguro com o ex-ditador Saddam Hussein na prisão.
Blair exortou seu partido, reunido na cidade de Brighton, a se manter unido para, nas eleições de maio de 2005, manter-se no poder por um terceiro quadriênio consecutivo, algo inédito em um século de história do Labour.
A Guerra do Iraque provocou divisões internas no partido, com dirigentes que se opunham ao alinhamento automático do Reino Unido aos Estados Unidos de George W. Bush. Um dos indícios da controvérsia está no fato de Blair ter sido interrompido duas vezes por vaias.
"As evidências de que Saddam possuía armas biológicas e bacteriológicas mostraram-se equivocadas. Eu o constato e o aceito", disse Blair, que se aliou aos EUA em razão do suposto perigo de tais arsenais caírem em mãos de grupos do terrorismo islâmico.
Disse em seguida que pode se "desculpar pela informação que era finalmente incorreta, mas não posso desculpar-me pelo fato de ter participado da deposição de Saddam".
Blair foi bastante ovacionado quando apelou para que seu partido arregaçasse as mangas e se preparasse para a vitória ao fim da campanha do ano que vem.
Mas o clima do encontro, relatam a Associated Press e a Reuters, foi em grande parte envenenado pelo engajamento britânico no Iraque e também por adversários de uma decisão oficial bem mais banal e localizada: a proibição da caça às raposas.
"Você traz sangue nas mãos", gritou um dos participantes, identificado como Hector Christie, antes de ser retirado do plenário.
A guerra provocou uma erosão na confiança dos britânicos na capacidade de Blair de ponderar de modo correto questões políticas, afirma a Associated Press.
O premiê argumentou, no entanto, que procurou defender a segurança do Reino Unido e em nenhum momento considerou que iria a reboque de Bush "numa causa que nos era irrelevante".

Oriente Médio
Disse que, sem uma forte aliança com os EUA, seriam anódinos os esforços britânicos para combater a pobreza na África, a epidemia da Aids, o aquecimento global e os esforços de paz no Oriente Médio, região que se tornará para ele "uma prioridade pessoal" depois das eleições americanas de 2 de novembro.
"Dois Estados, Israel e a Palestina, vivendo lado a lado numa paz duradoura, fariam mais para derrotar o terrorismo do que qualquer arma de fogo", disse.
Liam Fox, presidente do Partido Conservador, e Simon Hughes, dos Liberais Democratas, disseram que Blair não conseguiu reconquistar a confiança dos britânicos, abalada pela Guerra do Iraque. "Blair está fora da realidade", disse Fox. Para Hughes, a Guerra do Iraque teve como objetivo depor um regime, o que não faz parte das normas vigentes do direito internacional.
Tony Woodley, líder sindical do setor dos transportes, disse ter dúvidas da justeza dos argumentos de Blair sobre o Iraque. Outro sindicalista, Mark Serwotka, líder dos servidores públicos, criticou o primeiro-ministro pelo plano recentemente anunciado de suprimir 100 mil empregos no setor.


Com agências internacionais


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