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ORIENTE MÉDIO
Premiê anuncia decisão pouco antes de Parlamento aprovar dissolução do governo; pleito só deve ocorrer em 2001
Barak aceita antecipar eleições em Israel
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O primeiro-ministro de Israel,
Ehud Barak, disse ontem que está
disposto a antecipar as eleições no
país, como vinha pedindo a oposição, que o acusa de incapacidade para lidar com a violência nos
territórios palestinos, iniciada há
dois meses.
"Vocês querem eleições. Eu estou preparado para eleições, eleições gerais para primeiro-ministro e para o Knesset (Parlamento)", disse Barak em sessão do
Parlamento transmitida pela TV.
Ele disse que a data do pleito será acertada nos próximos dias entre os partidos. O ministro das Relações Exteriores, Shlomo Ben
Ami, disse que seriam em abril ou
maio. Barak falou num prazo de
seis a nove meses.
"Não sou cego. Vejo que o
Knesset quer eleições", disse o
trabalhista Barak, que permanecerá no cargo até o pleito. Eleito
em maio do ano passado, com um
mandato de quatro anos, sua
principal promessa de governo,
feita em julho de 99, era obter
acordos de paz com Síria, Líbano
e palestinos em 15 meses.
Só realizou uma retirada unilateral do sul do Líbano, em maio
deste ano, criticada pela oposição
por sua forma apressada e sem
um acordo com os libaneses.
Pesquisas de opinião indicam
que o processo de paz segue tendo
o apoio da maioria dos israelenses, mas indicam também que, se
as eleições fossem realizadas hoje,
Barak perderia para os dois políticos mais cotados para obter a candidatura do Likud (maior partido
da oposição), o ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e
Ariel Sharon.
Sharon, líder do Likud, disse
ontem que seu partido deve realizar primárias com voto popular
para escolher seu candidato.
Barak perdeu a maioria no
Knesset pouco antes da realização
da cúpula de Camp David (EUA)
com o líder palestino Iasser Arafat
e o presidente Bill Clinton, em julho último.
Partidos de sua base o abandonaram por oposição às propostas
que ele estava levando para Arafat, que incluíam soberania parcial em áreas de Jerusalém Oriental e a devolução de cerca de 90%
dos territórios palestinos ocupados em 1967. Arafat recusou as
ofertas de Barak.
Desde então, o premiê vinha
buscando respaldo entre partidos
menores para manter-se no poder mesmo com minoria no Parlamento. Os choques entre Israel e
palestinos (iniciados em 28 de setembro após visita de Sharon a local disputado em Jerusalém) provocaram uma grande queda na
popularidade de Barak e deram
força aos partidos de oposição.
O premiê defendeu seu governo
ontem e declarou que sua primeira opção seguia sendo a formação
de um governo de emergência nacional, com o Likud, capaz de
conter os distúrbios na região.
"Eu repito: eleições não são necessárias neste momento. O país
quer -e a situação exige- um
governo de emergência nacional", disse.
Barak criticou ainda os partidos
de direita, dizendo que eles não tinham alternativa nem um "plano
mágico" para lidar com a violência e o processo de paz.
O premiê, pouco antes da sessão
legislativa, tentou ainda convencer Sharon a integrar sua coalizão
e ajudá-lo a derrubar os cinco
projetos de antecipação das eleições, quatro deles apresentados
pelo Likud. Os cinco projetos foram aprovados ontem.
A principal crítica da oposição é
que Barak não tem sido duro o suficiente para conter a violência
nos territórios palestinos e em Israel -os choques já fizeram 283
mortos, a maioria palestinos.
Contestam ainda suas concessões
nas negociações de paz.
Analistas dizem que, com a segurança do país ameaçada, deverá haver um avanço da direita nas
eleições, o que colocaria em risco
o futuro do processo de paz. O
país realiza eleições separadas para premiê e Parlamento.
Barak afirmou que continua
comprometido com o processo
de paz com os palestinos.
Até as novas eleições, ele terá a
possibilidade de firmar algum tipo de acordo com os palestinos e
obter apoio para sua candidatura.
Segundo disse Barak, esse eventual acordo seria gradual -antes,
ele buscava um acerto permanente para pôr fim aos conflitos. "Se é
impossível atingir um acordo final, devemos buscar outro caminho. Trabalhamos atualmente
com a possibilidade de um acordo
gradual, que pode ser considerado uma acordo provisório de longo prazo", disse.
Essa nova fórmula abrangeria o
reconhecimento de um Estado
palestino e a transferência de
áreas hoje em poder de Israel,
com continuidade territorial com
a Cisjordânia, ao controle da Autoridade Nacional Palestina.
De acordo com esse projeto, Israel anexaria em contrapartida alguns assentamentos judaicos na
Cisjordânia e desmantelaria as
colônias pequenas ou isoladas.
As autoridades palestinas, contudo, rechaçaram imediatamente
a idéia de mais um acordo de
transição.
Reação palestina
Reagindo ao anúncio de novas
eleições, líderes palestinos disseram esperar que elas tragam uma
mudança na posição de Israel em
relação a eles.
"Não é importante aos palestinos se esse governo permanece
ou um outro assume. O que importa é que a política israelense
mude", disse Iasser Abed Rabbo,
ministro da Informação da Autoridade Palestina.
"Se eles não mudarem suas atitudes e suas políticas, voltarão à
mesma crise. E cada crise será
maior do que a anterior", disse o
ministro palestino.
Analistas palestinos disseram
acreditar que deve haver um congelamento nas negociações de paz
até a realização das eleições.
Violência
Dois palestinos morreram ontem na faixa de Gaza ocupada.
Desde domingo, não ocorriam
mortes no conflito.
Imad al Daya, 17, morreu no
cruzamento de Karni, zona fronteiriça entre Gaza e Israel, vítima
de um tiro na cabeça.
Karam al Kurd, 14, morreu em
decorrência de ferimentos de bala
na cabeça, em 22 de novembro.
Mais de 20 palestinos foram feridos durante choques com o Exército ontem. Houve também confrontos na Cisjordânia.
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