São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000

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ORIENTE MÉDIO
Premiê anuncia decisão pouco antes de Parlamento aprovar dissolução do governo; pleito só deve ocorrer em 2001
Barak aceita antecipar eleições em Israel

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS


O primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak, disse ontem que está disposto a antecipar as eleições no país, como vinha pedindo a oposição, que o acusa de incapacidade para lidar com a violência nos territórios palestinos, iniciada há dois meses.
"Vocês querem eleições. Eu estou preparado para eleições, eleições gerais para primeiro-ministro e para o Knesset (Parlamento)", disse Barak em sessão do Parlamento transmitida pela TV.
Ele disse que a data do pleito será acertada nos próximos dias entre os partidos. O ministro das Relações Exteriores, Shlomo Ben Ami, disse que seriam em abril ou maio. Barak falou num prazo de seis a nove meses.
"Não sou cego. Vejo que o Knesset quer eleições", disse o trabalhista Barak, que permanecerá no cargo até o pleito. Eleito em maio do ano passado, com um mandato de quatro anos, sua principal promessa de governo, feita em julho de 99, era obter acordos de paz com Síria, Líbano e palestinos em 15 meses.
Só realizou uma retirada unilateral do sul do Líbano, em maio deste ano, criticada pela oposição por sua forma apressada e sem um acordo com os libaneses.
Pesquisas de opinião indicam que o processo de paz segue tendo o apoio da maioria dos israelenses, mas indicam também que, se as eleições fossem realizadas hoje, Barak perderia para os dois políticos mais cotados para obter a candidatura do Likud (maior partido da oposição), o ex-primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e Ariel Sharon.
Sharon, líder do Likud, disse ontem que seu partido deve realizar primárias com voto popular para escolher seu candidato.
Barak perdeu a maioria no Knesset pouco antes da realização da cúpula de Camp David (EUA) com o líder palestino Iasser Arafat e o presidente Bill Clinton, em julho último.
Partidos de sua base o abandonaram por oposição às propostas que ele estava levando para Arafat, que incluíam soberania parcial em áreas de Jerusalém Oriental e a devolução de cerca de 90% dos territórios palestinos ocupados em 1967. Arafat recusou as ofertas de Barak.
Desde então, o premiê vinha buscando respaldo entre partidos menores para manter-se no poder mesmo com minoria no Parlamento. Os choques entre Israel e palestinos (iniciados em 28 de setembro após visita de Sharon a local disputado em Jerusalém) provocaram uma grande queda na popularidade de Barak e deram força aos partidos de oposição.
O premiê defendeu seu governo ontem e declarou que sua primeira opção seguia sendo a formação de um governo de emergência nacional, com o Likud, capaz de conter os distúrbios na região. "Eu repito: eleições não são necessárias neste momento. O país quer -e a situação exige- um governo de emergência nacional", disse.
Barak criticou ainda os partidos de direita, dizendo que eles não tinham alternativa nem um "plano mágico" para lidar com a violência e o processo de paz.
O premiê, pouco antes da sessão legislativa, tentou ainda convencer Sharon a integrar sua coalizão e ajudá-lo a derrubar os cinco projetos de antecipação das eleições, quatro deles apresentados pelo Likud. Os cinco projetos foram aprovados ontem.
A principal crítica da oposição é que Barak não tem sido duro o suficiente para conter a violência nos territórios palestinos e em Israel -os choques já fizeram 283 mortos, a maioria palestinos. Contestam ainda suas concessões nas negociações de paz.
Analistas dizem que, com a segurança do país ameaçada, deverá haver um avanço da direita nas eleições, o que colocaria em risco o futuro do processo de paz. O país realiza eleições separadas para premiê e Parlamento.
Barak afirmou que continua comprometido com o processo de paz com os palestinos.
Até as novas eleições, ele terá a possibilidade de firmar algum tipo de acordo com os palestinos e obter apoio para sua candidatura.
Segundo disse Barak, esse eventual acordo seria gradual -antes, ele buscava um acerto permanente para pôr fim aos conflitos. "Se é impossível atingir um acordo final, devemos buscar outro caminho. Trabalhamos atualmente com a possibilidade de um acordo gradual, que pode ser considerado uma acordo provisório de longo prazo", disse.
Essa nova fórmula abrangeria o reconhecimento de um Estado palestino e a transferência de áreas hoje em poder de Israel, com continuidade territorial com a Cisjordânia, ao controle da Autoridade Nacional Palestina.
De acordo com esse projeto, Israel anexaria em contrapartida alguns assentamentos judaicos na Cisjordânia e desmantelaria as colônias pequenas ou isoladas.
As autoridades palestinas, contudo, rechaçaram imediatamente a idéia de mais um acordo de transição.

Reação palestina
Reagindo ao anúncio de novas eleições, líderes palestinos disseram esperar que elas tragam uma mudança na posição de Israel em relação a eles.
"Não é importante aos palestinos se esse governo permanece ou um outro assume. O que importa é que a política israelense mude", disse Iasser Abed Rabbo, ministro da Informação da Autoridade Palestina.
"Se eles não mudarem suas atitudes e suas políticas, voltarão à mesma crise. E cada crise será maior do que a anterior", disse o ministro palestino.
Analistas palestinos disseram acreditar que deve haver um congelamento nas negociações de paz até a realização das eleições.

Violência
Dois palestinos morreram ontem na faixa de Gaza ocupada. Desde domingo, não ocorriam mortes no conflito.
Imad al Daya, 17, morreu no cruzamento de Karni, zona fronteiriça entre Gaza e Israel, vítima de um tiro na cabeça.
Karam al Kurd, 14, morreu em decorrência de ferimentos de bala na cabeça, em 22 de novembro. Mais de 20 palestinos foram feridos durante choques com o Exército ontem. Houve também confrontos na Cisjordânia.


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