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Mísseis podem ser de estoque afegão
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mísseis antiaéreos portáteis
que os americanos temiam ser
usados contra eles no Afeganistão
podem ter estreado ontem no
atentado terrorista ao avião israelense no Quênia.
Os EUA enviaram centenas de
mísseis Stinger, de fabricação
americana, e SAM-7, de fabricação russa, para os guerrilheiros
muçulmanos que resistiam à ocupação soviética do Afeganistão.
Os EUA temiam que esses mísseis lançados apoiados no ombro
fossem usados contra seus aviões
na guerra contra o Taleban e a Al
Qaeda. Não há registros de uso
então. O fato de os aviões americanos voarem em altitudes elevadas para reduzir baixas pode ter
contribuído, pois, além de esses
mísseis terem alcance curto, detectar o avião era dificílimo.
Como todo artefato bélico, um
míssil também tem "prazo de validade". O fato de não terem detonado contra o avião de passageiros indicaria que pode ter havido
uma falha no equipamento, já que
os mísseis começaram a ser entregues aos afegãos por volta de 1986.
Mas se o americano Stinger é relativamente raro, os russos SAM-7 e SAM-14 são mais comuns no mercado internacional de armas,
tendo sido entregues a muitos
países do Terceiro Mundo. Como
o Stinger foi projetado para abater
aviões de caça voando a velocidades supersônicas, um avião de
passageiros seria alvo fácil.
No início do ano o FBI (polícia
federal dos EUA) alertou sobre a
possibilidade de terroristas usarem essa arma em atentados.
Um Stinger é considerado uma
arma barata. Custa cerca de US$
40 mil. No mercado clandestino,
pode estar sendo vendido a US$
150 mil ou mais.
O Stinger e seus equivalentes
russos e europeus são mísseis do
tipo conhecido como "dispare e
esqueça". Basta apontar para o alvo e apertar o gatilho, que o míssil
se guia pelo calor do alvo. O Exército brasileiro usa um míssil russo
desse tipo, o Igla.
Um avião militar em vôo pode
tentar despistar o míssil, seja através de manobras, seja lançando
artefatos pirotécnicos que desviam sua atenção. Aviões de
transporte são mais vulneráveis
por serem menos manobráveis,
mas, pelo maior tamanho e por
terem mais de um motor, podem
sobreviver a um ataque, dependendo de onde o míssil impactar.
Um avião de passageiros no
pouso ou na decolagem é extremamente vulnerável. Se foi de fato um ataque com mísseis, o avião
teria sido derrubado se eles tivessem detonado nos motores.
Um Stinger tem apenas 1,52 metro de comprimento, e o lançador
pesa, completo com o míssil, 15,8
kg. Seu alcance máximo fica em
torno de de 5.000 metros.
Mas, se puder estar bem próximo do avião, o terrorista pode
usar até uma arma bem mais simples e barata, como os "lança-rojões", na terminologia no Exército
brasileiro (derivados das "bazucas" da Segunda Guerra).
É o caso do lança-granadas foguete RPG ("rocket-propelled
grenade") que a ex-URSS exportou aos milhões. Comuníssima
em todo o Terceiro Mundo, pode
atingir um alvo até 500 metros.
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