São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 2002

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NIGÉRIA

Decreto "deverá ser ignorado"

Órgão islâmico anula "fatwa" contra jornalista

DA REDAÇÃO

O mais elevado órgão islâmico da Nigéria afirmou ontem que os muçulmanos deveriam ignorar a "fatwa" (decreto religioso), emitida por um Estado do norte do país, que os exortava a matar Isioma Daniel. Ela é a jornalista que escreveu o artigo sobre o concurso de Miss Mundo que deu início a violentos conflitos religiosos no país -que causaram a morte de mais de 200 pessoas.
O comunicado oficial foi divulgado no momento em que o presidente Olusegun Obasanjo enfrentava o descontentamento dos líderes da igreja da cidade de Kaduna, que foi palco da revolta popular. Segundo os religiosos, a maioria dos mortos nos enfrentamentos era cristã.
"O Estado de Zamfara não tem autoridade para emitir uma "fatwa". Assim, o decreto emitido pelo Estado deverá ser ignorado", dizia o comunicado oficial.
O artigo da jornalista enfureceu os muçulmanos porque dizia que, se ainda fosse vivo, o profeta Muhammad aprovaria a realização do concurso de Miss Mundo na Nigéria e talvez até escolhesse uma das concorrentes para ser sua mulher.
A violência gerada pelo artigo, que foi publicado pelo jornal "ThisDay", fez com que os organizadores do concurso de Miss Mundo decidissem transferir sua realização para o Reino Unido. O escritório do "ThisDay" em Kaduna foi totalmente destruído por militantes islâmicos.
A jornalista fugiu da Nigéria, segundo os editores do "ThisDay". Ela pediu demissão e foi para os EUA, de acordo com eles. O editor que responde pelo suplemento de sábado -no qual o artigo fora impresso- foi preso para interrogatório e depois libertado.
A tragédia poderá ter graves efeitos políticos. Afinal, Obasanjo pretendia realizar as primeiras eleições no país desde o final do regime militar, em 1999. Em princípio, o pleito deverá ocorrer no primeiro semestre de 2003.


Com agências internacionais


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