|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Opositores vêem ilegalidade em deliberação do Congresso
DA ENVIADA A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
A medida que permite à Assembléia Constituinte boliviana deliberar em qualquer ponto do país foi aprovada pelo pleno do Congresso boliviano (Senado e Câmara), de maioria governista, na madrugada de ontem, numa sessão conturbada
em que a maior parte dos parlamentares oposicionistas estava
ausente e sob pressão de manifestantes pró-Evo Morales que
cercavam o edifício.
A medida visa levar adiante a
tramitação da nova Carta do
país fora da cidade de Sucre, sede da Constituinte, onde o texto geral da Carta foi aprovado,
no sábado, em um quartel, em
meio a protestos opositores
que deixaram três mortos.
A sessão conjunta do Congresso foi convocada anteontem para debater, originalmente, o Renda Dignidade, programa do governo de transferência
de renda a idosos. Fora do Congresso, 3.000 manifestantes
pró-governo, a maioria camponeses, faziam um cerco para
pressionar pela aprovação do
benefício. Ainda à tarde, a assessoria do principal partido da
oposição, o Podemos, afirmava
que os parlamentares da legenda cobravam garantias de segurança para ir ao edifício.
Suplentes
Para conseguir quórum para
a sessão, o governo contou com
a adesão de dois parlamentares
suplentes da oposição. O pleno,
então, aprovou por maioria o
Renda Dignidade, cujos recursos virão de um imposto sobre
hidrocabornetos dividido com
os governos regionais. O Podemos, principal partido da oposição, e os governadores oposicionistas são contra usar o imposto para pagar o benefício.
Já passava da meia-noite
quando o vice-presidente da
República, Álvaro García Linera, que presidia a sessão, pôs
em pauta a modificação da lei
convocatória da Constituinte,
também aprovada por maioria.
O presidente do Podemos,
Jorge "Tuto" Quiroga, afirmou
que o governo agiu ilegalmente
na sessão. O expediente de usar
suplentes de oposicionistas ausentes já havia sido usado pela
base governista para aprovar a
Lei Fundiária, em agosto de
2006. O governo é maioria na
Câmara. A oposição, no Senado. Quando as Casas fazem sessão conjunta, votos de senadores e deputados são equivalentes e o governistas são em
maior número.
Quiroga disse ainda que o governo contou com a pressão
dos manifestantes para evitar a
presença dos oposicionistas.
Segundo ele, os camponeses
pró-Evo tinham a lista dos senadores do Podemos e estavam
orientados a impedi-los de entrar. "Três senadores tentaram
entrar e tiveram de fugir dos
camponeses. Por motivo de
consciência, eu pedi que ninguém mais fosse para não se arriscar", disse Quiroga à Folha.
Morales agradece
O senador Tito Hoz de Vila
(Podemos) afirmou que a própria polícia orientou aos parlamentares que evitassem entrar
no Congresso. Diante do cerco,
o deputado Peter Maldonado,
da oposicionista União Nacional, disfarçou-se de pedreiro
para entrar no edifício.
Com cartazes, bandeiras e
berrantes, os integrantes dos
movimentos sociais chegaram
a La Paz na segunda-feira, depois de uma semana de caminhada. Na terça, o próprio presidente Evo Morales participou
da marcha do movimento.
Ontem, ao promulgar a lei do
Renda Dignidade, Morales
agradeceu aos manifestantes.
"Se não fossem vocês, com certeza essa lei nunca teria sido
aprovada", disse. Ele negou que
os senadores não pudessem
comparecer à sessão por causa
de ameaças. "Não somos violentos, não vamos bater em
ninguém", disse.
O vice-presidente da Constituinte, Roberto Aguilar, disse à
Folha ontem, em rápida conversa telefônica, que a idéia é
retomar as sessões na segunda,
em local a definir.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Apesar de conflitos, Lula diz que irá à Bolívia Índice
|