São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007

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Musharraf deixa Exército e assume hoje como civil

Ditador paquistanês passa a aliado o comando militar, sua principal fonte de poder

Recondução de general à Presidência, em eleição indireta, foi validada por uma Suprema Corte expurgada de dissidentes

DA REDAÇÃO

O general Pervez Musharraf toma posse hoje como presidente civil do Paquistão, após comandar oito anos de regime militar. Agradecendo pela "assistência e cooperação" de seu sucessor e da cúpula do Exército, o ditador passou ontem a chefia das Forças Armadas a Ashfaq Kayani, aliado que deve dar continuidade às políticas antiterrorismo que renderam a Musharraf uma aliança especial com os Estados Unidos após o 11 de Setembro.
"Tenho orgulho de ter comandado as melhores Forças Armados do mundo", afirmou o general, que passou 46 dos seus 64 anos na instituição. O exagero não é de todo despido de bases concretas: o Paquistão tem a bomba atômica, conta com 600 mil soldados e um poderio militar desproporcional aos seus frágeis indicadores sociais.
O Exército, a quem Musharraf atribuiu ontem a responsabilidade pela "união nacional", permeia a vida política do país. Seu apoio continua fundamental para Musharraf, que desde o dia 3 governa sob estado de emergência e viu sua credibilidade doméstica ruir neste ano, acossado entre a oposição democrática e a insurgência islâmica -que o Exército, permeado pela influência dos radicais, foi incapaz de conter.
Após cassar dissidentes na Suprema Corte, Musharraf obteve, na semana passada, decisão favorável do tribunal sobre a controversa reeleição, indireta, que lhe concedeu em outubro mais cinco anos na Presidência. Ao tomar posse -como civil, conforme exige a lei do país-, Musharraf inicia um governo formalmente legal, embora sem apoio popular.
Reunidos numa frágil Aliança para a Restauração da Democracia, os partidos de oposição ainda não conseguiram estabelecer uma alternativa de poder viável. Após ameaçar um boicote geral, que poderia minar a credibilidade das eleições legislativas marcadas para 8 de janeiro, Benazir Bhutto e Nawaz Sharif - ambos ex-premiês- formalizaram candidatura. Juntos apenas no clamor pelo retorno da normalidade institucional antes do pleito, os dois são rivais políticos.
Benazir, que durante meses negociou sem sucesso um acordo com o regime, comemorou ontem o gesto de Musharraf, mas disse que ainda é cedo para saber se apoiará o governo. A remoção de uma regra que proíbe a recondução de antigos primeiros-ministros ao cargo é a principal carta do governo para atrair Benazir.


Com agências internacionais


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