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Musharraf deixa Exército e assume hoje como civil
Ditador paquistanês passa a aliado o comando militar, sua principal fonte de poder
Recondução de general
à Presidência, em eleição indireta, foi validada por uma Suprema Corte expurgada de dissidentes
DA REDAÇÃO
O general Pervez Musharraf
toma posse hoje como presidente civil do Paquistão, após
comandar oito anos de regime
militar. Agradecendo pela "assistência e cooperação" de seu
sucessor e da cúpula do Exército, o ditador passou ontem a
chefia das Forças Armadas a
Ashfaq Kayani, aliado que deve
dar continuidade às políticas
antiterrorismo que renderam a
Musharraf uma aliança especial com os Estados Unidos
após o 11 de Setembro.
"Tenho orgulho de ter comandado as melhores Forças
Armados do mundo", afirmou o
general, que passou 46 dos seus
64 anos na instituição. O exagero não é de todo despido de bases concretas: o Paquistão tem
a bomba atômica, conta com
600 mil soldados e um poderio
militar desproporcional aos
seus frágeis indicadores sociais.
O Exército, a quem Musharraf atribuiu ontem a responsabilidade pela "união nacional",
permeia a vida política do país.
Seu apoio continua fundamental para Musharraf, que desde o
dia 3 governa sob estado de
emergência e viu sua credibilidade doméstica ruir neste ano,
acossado entre a oposição democrática e a insurgência islâmica -que o Exército, permeado pela influência dos radicais,
foi incapaz de conter.
Após cassar dissidentes na
Suprema Corte, Musharraf obteve, na semana passada, decisão favorável do tribunal sobre
a controversa reeleição, indireta, que lhe concedeu em outubro mais cinco anos na Presidência. Ao tomar posse -como
civil, conforme exige a lei do
país-, Musharraf inicia um governo formalmente legal, embora sem apoio popular.
Reunidos numa frágil Aliança para a Restauração da Democracia, os partidos de oposição ainda não conseguiram estabelecer uma alternativa de
poder viável. Após ameaçar um
boicote geral, que poderia minar a credibilidade das eleições
legislativas marcadas para 8 de
janeiro, Benazir Bhutto e Nawaz Sharif - ambos ex-premiês- formalizaram candidatura. Juntos apenas no clamor
pelo retorno da normalidade
institucional antes do pleito, os
dois são rivais políticos.
Benazir, que durante meses
negociou sem sucesso um acordo com o regime, comemorou
ontem o gesto de Musharraf,
mas disse que ainda é cedo para
saber se apoiará o governo. A
remoção de uma regra que
proíbe a recondução de antigos
primeiros-ministros ao cargo é
a principal carta do governo para atrair Benazir.
Com agências internacionais
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