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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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TRAGÉDIA

Governo e equipes de ajuda voltam suas atenções aos 100 mil desabrigados; número de mortos chega a 22 mil

Após salvar mil, Irã interrompe resgates

Atta Kanare/France Presse
Menina se aquece em frente à sua tenda, em Bam; terremoto deixou 100 mil desabrigado


DA REDAÇÃO

Após dois dias de buscas, cerca de mil pessoas foram retiradas com vida dos escombros do terremoto que na sexta-feira destruiu a cidade histórica de Bam. Ontem, o governo iraniano e as equipes internacionais finalizaram os trabalhos de resgate -o número de mortos chegou a 22 mil, pelo último balanço oficial.
A primeira equipe a suspender as buscas foi a de especialistas suíços, que desde a manhã de sábado utilizava cachorros treinados para farejar sobreviventes. Roland Schlachter, chefe do grupo suíço, disse que "90% da cidade está destruída, e as chances de encontrar sobreviventes são ínfimas". "Moradores estão esmagados, sufocados ou congelados sob os escombros dos prédios", acrescentou.
A dificuldade para achar sobreviventes já ficara clara no meio da tarde, quando o Escritório para Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU dispensou o envio de mais equipes de resgate, para "evitar problemas de coordenação" -profissionais de 21 países trabalham nos escombros.
Jahanbakhsh Khanjani, porta-voz do Ministério do Interior do Irã, elevou de 20 mil para 22 mil o cálculo oficial do número de mortos, mas disse que o governo espera mais mortes. Um funcionário da Província de Kerman, onde Bam está localizada, afirmou que o número pode chegar a 30 mil.
O governo iraniano confirmou que há um turista americano entre os mortos pelo sismo -outro americano e dois suíços foram feridos. Bam era um dos principais destinos turísticos do Irã, devido à sua cidadela histórica, construída em argila -que foi totalmente destruída pelo tremor.
Após o fim do resgate, a ajuda internacional voltou-se para os cerca de 100 mil desabrigados, alojados em barracas erguidas nas praças públicas de Bam, que tinha 180 mil habitantes antes do sismo.
O Crescente Vermelho Internacional, versão islâmica da Cruz Vermelha, levou ao Irã 20 mil barracas, 30 mil sacos plásticos, 200 mil cobertores e 400 mil comprimidos para purificar água, além de geradores de energia e aquecedores a querosene. A cidade segue sem eletricidade, água e telefone.
Técnicos em tratamento de água e agentes sanitários também chegaram a Bam, para tentar evitar o surgimento de epidemias. "A saúde da população está extremamente vulnerável", afirmou Martin Zak, um dos coordenadores do auxílio estrangeiro.

Saques
Com a chegada do equipamento de ajuda, Bam tornou-se alvo de saques. Jovens encapuzados, armados com pistolas e fuzis, levaram barracas e sacos de dormir do Crescente Vermelho. Caminhões que transportavam cobertores também foram roubados.
Moradores e alguns integrantes dos grupos de apoio definiram como caóticos os esforços de ajuda humanitária. "Não há organização. Quem é mais forte consegue mais suprimentos", disse a desabrigada Mehdi Dehghani.
O Instituto de Geologia da Universidade de Teerã teme a ocorrência de novos tremores nas próximas semanas, possivelmente tão fortes quanto o de sexta, que registrou 6,3 graus da escala Richter -que é aberta, embora até hoje nenhum terremoto tenha superado nove graus.
O maior terremoto da história do Irã aconteceu em 1990, quando um tremor de 7,7 graus matou mais de 35 mil pessoas.

Com agências internacionais


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