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Paquistão conflagrado
Partido de Benazir culpa o governo pelo assassinato
Investigadores tentam provar envolvimento da Al Qaeda e do Taleban; atentado desestabiliza governo paquistanês
Benazir afirmara, em e-mail enviado ao seu porta-voz americano, que Musharraf seria co-responsável se "algo" acontecesse a ela
DA REDAÇÃO
Enquanto simpatizantes de
Benazir Bhutto protestam contra o ditador Pervez Musharraf
e culpam o regime por sua morte, a polícia paquistanesa se esforça para provar a relação de
organizações terroristas com o
atentado. Analistas concordam
que Al Qaeda e o Taleban, que
haviam ameaçado Benazir, são
os suspeitos mais óbvios, mas
têm dúvidas sobre a possibilidade de que sejam descobertas
as circunstâncias do episódio e
se houve ou não cooperação de
agentes da inteligência.
A cabeça carbonizada do suposto terrorista suicida foi recolhida pela polícia, que tenta
identificá-lo por meio de um
teste de DNA. Se descoberta, a
seqüência genética não provará, a rigor, nada. Até o momento, a única "prova" relatada pelo governo são ligações telefônicas interceptadas pelos serviços de espionagem.
Segundo o porta-voz do ministério do interior, Javed Chima, em uma das ligações o líder
da Al Qaeda Baitullah Mehsud
parabeniza seus companheiros
pelo ataque. O PPP (Partido do
Povo Paquistanês) rejeita a hipótese "apressada".
Faruq Naik, um dos dirigentes do partido de Benazir, disse
ainda que o governo mente
quando aponta como causa da
morte um ferimento na cabeça
causado por uma batida após a
explosão. Ele insiste que a ex-premiê foi atingida por duas
balas, numa "grave falha da segurança", que estariam tentando encobrir com especulações.
A família não autorizou a autópsia, que impediria o velório
no prazo preconizado pelo islã.
O imbróglio político-policial
permanece, acirrando sentimentos anti-Musharraf.
Benazir acusou governo
A rede americana CNN publicou ontem um e-mail enviado por Benazir ao seu porta-voz
americano, Mark Siegel, dias
após ter escapado ilesa ao atentado que matou 140 simpatizantes do PPP que comemoravam seu retorno ao país, em outubro. Na mensagem, Benazir
critica a segurança oferecida
pelo governo e diz que, se algo
lhe acontecesse, Musharraf seria co-responsável.
Uma lista das autoridades
"suspeitas" fora entregue pela
ex-premiê ao ditador no dia seguinte ao atentado. Na época,
em meio a negociações jamais
concluídas com o governo, ela
poupou Musharraf e atribuiu
as explosões a "dignitários do
ex-ditador Mohammed Zia"
(1977-88) infiltrados na ISI, a
agência central de inteligência
paquistanesa.
Segundo informações da imprensa do Paquistão, entre os
agentes que Benazir acusou de
tramar sua morte estão um oficial do ISI e um alto funcionário da Agência Nacional de Fiscalização que investigava escândalos de corrupção envolvendo Benazir.
O envolvimento da ISI não
implicaria necessariamente
participação do governo. O poderoso serviço secreto monitora quase tudo no país e desenvolveu uma cultura política
própria, islamista, durante a ditadura de Mohammed Zia-ul-Haq, que derrubou o governo
do pai de Benazir. O apoio logístico dado pelo ISI ao Taleban foi fundamental para a derrota soviética no Afeganistão.
O Taleban tem também ligações com os partidos islâmicos
reunidos na Muttahida Majlis-e-Amal (MMA). Opositor ferrenho das políticas antiterrorismo, a MMA tem uma relação
ambígua com o governo, mas
combate a oposição laica.
Mais que organizações, são
ideologias que movem radicais
paquistaneses. Para desespero
do governo, a responsabilidade
também será julgada por critérios político-ideológicos.
Com agências internacionais
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