São Paulo, sábado, 29 de dezembro de 2007

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Viúvo da ex-premiê pode ter a chefia do partido; a dinastia Bhutto chega ao fim

FRAHAN BOKHARI
DO "FINANCIAL TIMES"

O Partido do Povo do Paquistão ainda não decidiu se levará adiante seus planos de disputar as eleições legislativas de 8 de janeiro, em meio à comoção provocada pelo assassinato de Benazir Bhutto. O partido foi mergulhado num momento delicado. Deve decidir rapidamente como substituir Benazir e ainda preservar o apoio obtido com o atentado.
As negociações para a escolha de uma nova liderança não serão abertas antes da semana que vem. Mas Asif Ali Zardari, viúvo da ex-premiê morta, terá um papel central na sucessão.
Um assessor de Benazir, Shafqat Mahomud, disse que "a estrutura do PPP está construída de tal maneira que é impossível não termos a família Bhutto no primeiro escalão".
Zardari, que estava em Dubai e que na quinta-feira à noite voou para o Paquistão com seus três filhos, é um personagem controvertido. Embora Benazir o defendesse de modo incondicional, inquéritos no Paquistão e em outros países o envolvem em corrupção.
Além dele, devem ocupar posições importantes Amin Fahim, o mais velho dos dirigentes do PPP, e o carismático advogado Aitzaz Ahsan, que já foi ministro do Interior.
Com a morte de Benazir, sua dinastia estaria chegando ao fim. "Os Bhutto morrem cedo, e a morte da ex-premiê tem a particularidade de apagar o sobrenome familiar da política paquistanesa", diz Khuda Bursh, trabalhador de Karachi. A dinastia não acabou. Bilawal, o filho mais velho de Benazir, é estudante em Oxford. Mas ele tem o sobrenome do pai.
Dirigentes do partido não querem discutir o assunto, sob o argumento de que é preciso esperar os três dias de luto.
Analistas afirmam, no entanto, que o PPP tem um papel importante a exercer na política paquistanesa, independentemente da existência de um Bhutto em seu comando.
"Muitos paquistaneses querem que o país tenha um partido atuando entre o centro e a esquerda, e o PPP preenche essa necessidade", diz Syesha Jalal, professor de história na Universidade Tufts.
O pai de Benazir fundou o PPP nos anos 60 como uma alternativa à esquerda da Liga Muçulmana do Paquistão, que tem hoje uma de suas facções sob o comando de Nawaz Sharif, outra liderança do país.
Defendendo um "socialismo islâmico" e prometendo uma economia capaz de fornecer alimentos, roupas e habitação, o PPP se tornou um partido nacional nos anos 70. Mas hoje diplomatas ocidentais comentam que a prioridade está nas eleições de janeiro.


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