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NATAL SOB AMEAÇA
Núncio católico pede fim do embargo ao Iraque
FERRAN SALES
do "El País", em Bagdá
O alarme voltou a tocar na véspera de Natal em Bagdá. O sinal,
avisando a população de um iminente bombardeio, era ouvido
perfeitamente nas ruas e nos
bairros da cidade. Mas era imperceptível no interior da catedral de São José, encoberto pelas
centenas de fiéis que participavam da Missa do Galo.
"Podem ir em paz", convidou o
núncio Giuseppe de Lazaroto. Os
fiéis abandonaram a igreja com
absoluta tranquilidade, sem saber que, do lado de fora, havia
uma ameaça de bombardeio.
"Ufa! Foi um alarme falso!",
disseram esses cristãos minutos
mais tarde, quando, em casa, puderam ouvir a sirene que anunciava o fim do alerta.
A véspera de Natal foi marcada
por esse incidente e pelo comunicado de De Lazaroto, que pediu à comunidade internacional
que se solidarizasse com o Iraque
e que ajudasse a buscar o "caminho da paz e do diálogo", pondo
fim ao embargo de oito anos que
"atinge um povo inteiro".
A mensagem de paz de De Lazaroto, representante de uma comunidade cristã de 500 mil pessoas, dificilmente chegará à comunidade internacional. Toda a
população -cristã e muçulmana- está mergulhada no desespero, na miséria e no medo.
Os iraquianos sofrem um embargo, imposto após a invasão do
Kuait (90), que três membros do
Conselho de Segurança da ONU
-China, Rússia e França- querem atenuar, em troca de alguma
concessão iraquiana, enquanto
os EUA e o Reino Unido pretendem mantê-lo.
O jornal "Babel", dirigido por
Udai, filho de Saddam Hussein,
disse que os iraquianos continuam "tratando as feridas, após
a agressão imperialista e sionista,
e só aceitarão a suspensão do
embargo". Bagdá não espera nada de Pequim, Moscou ou Paris.
Ahmed, 32, internado no hospital Iarmuk, não ouviu o comunicado de De Lazaroto. Operário,
pai de três filhos, foi atingido nas
pernas durante os ataques norte-americano e britânico deste mês.
"Estava conversando com uns
amigos, tranquilamente, na rua.
Vimos uma enorme bola de fogo
vindo em nossa direção. Houve
um grande estrondo e fui lançado para cima. Quando voltei ao
chão, notei que minhas pernas
não me sustentavam."
Uma lei de silêncio, que proíbe
explicar aos estrangeiros qualquer incidente relacionado a essa
guerra, parece ter sido ditada.
Assim, Ahmed é uma vítima real
de um ataque "inexistente".
²
Tradução de
Paulo Daniel Farah
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