São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ÁSIA

Coreanas foram raptadas na 2ª Guerra

Japão anula reparação a ex-escravas sexuais

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Tribunal Superior de Hiroshima anulou ontem uma sentença histórica, de 1998, que obrigava o governo japonês a indenizar três sul-coreanas utilizadas como escravas sexuais durante a Segunda Guerra Mundial.
O tribunal alegou que o pagamento desse tipo de reparação é uma questão que compete exclusivamente ao Parlamento, não à Justiça.
Três anos atrás, um juiz de Yamaguchi, numa decisão inédita, ordenou que o governo japonês pagasse US$ 2.272 a cada uma das três sul-coreanas, mas elas apelaram da decisão, alegando que o valor era insignificante.
As três disseram, no processo, que foram confinadas em bordéis em Taiwan e Xangai e obrigadas a manter relações sexuais com os soldados japoneses durante vários anos. Elas tinham, na época, em torno de 20 anos.
O Tribunal Superior de Hiroshima reconheceu que as três mulheres ficaram traumatizadas por causa dos abusos cometidos pelo Exército imperial japonês, mas ressaltou que a atual Constituição do país não exige que o Estado peça perdão ou pague indenizações a vítimas de crimes ocorridos no passado.
Em 1992, o Japão reconheceu oficialmente que seu Exército raptou cerca de 200 mil coreanas e chinesas, enviadas às linhas de batalha na China para satisfazer sexualmente os soldados japoneses.
Em 1993, o Japão apresentou um pedido de desculpas às chamadas "comfort women" (mulheres que ofereciam conforto). Mas o governo se recusa a conceder indenizações individuais, alegando que o caso foi resolvido e sepultado pelos acordos que puseram fim à guerra.
O Japão criou um fundo financeiro, em 1995, para dar assistência às vítimas de abusos sexuais e enviou uma carta pedindo desculpas às ex-escravas. Quase todas as cartas forma devolvidas.
Um porta-voz do governo japonês disse ontem que a decisão do Tribunal Superior de Hiroshima confirma a visão das autoridades.
As sul-coreanas reagiram com indignação. "Eu odeio os japoneses", disse Pak Du-ri, 76. Seu advogado disse que vai recorrer da decisão na Suprema Corte.
O caso das três sul-coreanas, uma das quais morreu no ano passado, faz parte de um processo mais amplo movido com outras sete mulheres da Coréia do Sul obrigadas a trabalhar em fábricas de munição no Japão durante a Segunda Guerra Mundial. O valor total da indenização pedida pelas dez mulheres é de US$ 4,2 milhões.
A negativa do governo japonês em compensar as ex-escravas sempre foi um assunto polêmico nas relações diplomáticas entre o Japão e os países onde as mulheres foram raptadas -Coréia, China e Taiwan.
Tanto a Coréia como Taiwan decidiram, alguns anos atrás, pagar uma indenização às vítimas dos soldados japoneses.


Texto Anterior: Bálcãs: Bomba mata duas pessoas em Kosovo
Próximo Texto: Escândalo: Presidente paraguaio usa BMW roubado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.