São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2001

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ESCÂNDALO

Vistoria do chassi do carro usado por Luis González Macchi confirma que BMW pertence a uma empresa em São Paulo

Presidente paraguaio usa BMW roubado

Reuters
Mecânico contratado pelo Ministério Público do Paraguai vistoria o BMW do presidente Macchi


MÁRCIA DETONI
DA REDAÇÃO

Uma vistoria no BMW dirigido pelo presidente do Paraguai, Luis González Macchi, confirmou ontem que o chassi foi adulterado. Um advogado da Sul América Seguros diz que o carro foi roubado no Brasil e pertence à empresa Jasen Farmacêutica Ltda., do grupo Jonhson & Johnson.
Ao saber do resultado da investigação, Macchi teria pedido ao Ministério Público, segundo a imprensa local, que processasse as pessoas envolvidas na venda do BMW e na falsificação dos documentos do veículo.
"Foi feita uma inspeção no chassi a pedido do promotor Alejandro Nissen, e o número confere com o do BMW roubado em São Paulo, sem violência, em 28 de dezembro de 1998", disse à Folha, por telefone, o advogado Julio Cesar Martinessi Real, que já está encaminhando à Justiça os papéis para reaver o carro para a Sul América Seguros, que pagou à Jasen uma indenização de US$ 120 mil pelo roubo do veículo.
"A Sul América não está interessada em abrir nenhum processo. Ela apenas quer o carro de volta", disse Martinessi, que espera poder enviar o BMW para São Paulo dentro de 20 dias.
O luxuoso BMW blindado, cor cinza, modelo 528i, foi adquirido em 1999 pelo ministro da Fazenda Francisco Oviedo para uso do presidente Macchi por US$ 81 mil, e o Ministério Público está investigando as suspeitas de que os documentos do veículo foram falsificados pelos próprios assessores de Oviedo.
Nissen suspeitava inicialmente que o BMW fosse um carro roubado em Porto Alegre. Ele disse ontem que ainda não havia recebido os papéis da Sul América, mas faria a avaliação dos documentos assim que os recebesse.
O caso abalou a credibilidade do governo, que, por pressão do Mercosul, vem tentando, sem sucesso, regularizar a frota de veículos do país e acabar com o comércio de carros roubados.
Segundo estimativas oficiais, cerca de 70% dos 600 mil veículos que circulam no Paraguai estão em situação irregular: são carros roubados no Brasil, Argentina, e Uruguai ou entraram no país sem pagar impostos. Quanto aos caminhões, estima-se que 90% sejam roubados.
Em outubro do ano passado, o governo pôs em vigor uma nova Lei de Registro de Automóveis e deu prazo de seis meses para o cadastramento dos veículos irregulares. O prazo terminava na próxima segunda-feira, mas o Congresso foi obrigado a estendê-lo por mais seis meses porque, até a semana passada, apenas cerca de 30 mil veículos (5% da frota) haviam sido registrados.
Os paraguaios temem perder seus carros se entregarem o número do chassi ao Departamento de Registro de Automóveis. Pela nova lei, os verdadeiros proprietários tem dois anos e meio para pedir a devolução do carro. Só após esse prazo é que os donos de veículos irregulares ganham o registro definitivo.
O fim do contrabando de automóveis não é um bom negócio para aos paraguaios, segundo Martinessi: "A situação é bastante cômoda, porque o valor dos automóveis roubados é 30% a 35% inferior ao do mercado legal".
Macchi tem evitado falar sobre as investigações. Seus assessores dizem que o presidente "tem coisas mais importantes com que se preocupar". O presidente da Câmara dos Deputados, Candido Vera, já anunciou, no entanto, que pretende iniciar um processo de impeachment de Macchi por causa do escândalo.
Atormentado por acusações de corrupção no governo e por uma forte crise econômica, o presidente paraguaio encontra-se numa situação política cada vez mais frágil. Pesquisas de opinião mostram que Macchi tem a aprovação de apenas 10% dos paraguaios.


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