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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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Cidades-símbolo estão em xeque

PAULO DANIEL FARAH
ESPECIAL PARA A FOLHA

A ameaça que a guerra representa à integridade de duas cidades-símbolo da civilização no sul do Iraque provoca apreensão especial por causa da proeminência arqueológica, religiosa e cultural delas. Eventuais bombardeios a Ur e Uruk -sobretudo ao se levar em conta a "precisão cirúrgica" dos últimos ataques- privariam a humanidade de dois patrimônios de valor inestimável.
Bem próximo à casa de Abraão, um dos mais importantes zigurates do mundo (de 2113 a.C.) domina o horizonte de Ur. O templo foi restaurado e conservava o esplendor de outrora antes do conflito atual -ao menos até 2000.
Os zigurates são elementos dos mais característicos da antiga Mesopotâmia. Em diversas cidades, o templo do deus que defendia a região compreendia um zigurate, construção formada por uma série de plataformas sobrepostas, em cima das quais havia um santuário. Por volta do quinto milênio a.C., já havia templos construídos sobre plataformas.

Torre de Babel
O zigurate mais famoso de todos, o do deus Marduk, na Babilônia, deu origem à história da Torre de Babel. Era denominado Etemenanki, que significa "o templo da fundação do céu e da terra". Não se conhece a natureza exata das cerimônias que se realizavam no alto do santuário.
A forma dos zigurates era parecida com a de algumas pirâmides do Egito (como a de Saqqara), mas sua função era diferente. As pirâmides eram essencialmente túmulos. Os zigurates são construções de tijolo coroadas por um santuário e se parecem mais com os templos da América Central.
O antigo povoamento de Uruk (atual Warka) foi habitado durante ao menos 5.000 anos, até o século 5º d.C. No quarto milênio a.C., Uruk foi a cidade mais importante da Mesopotâmia. Possuía dois centros: Kullaba, onde se encontra o templo de An (ou Anu), o deus do céu, e Eanna, que abriga o zigurate do templo dedicado à deusa Inanna (ou Ishtar, que passou a ser cultuada por gregos e romanos sob os nomes de Afrodite e Vênus). Construído por volta de 2110 a.C., impressiona mais que o primeiro.
Relatos de épocas posteriores dizem que a muralha que rodeava a cidade fora construída por Gilgamesh, rei de Uruk e herói de um dos primeiros épicos da história. Segundo a Epopéia de Gilgamesh, um terço da cidade de Uruk era constituída de templos, e outro terço, de jardins. As escavações concentraram-se na região dos templos, que ficavam no centro da cidade. As ruínas de Uruk já haviam sido danificadas durante a Guerra do Golfo (1991), o que poderá repetir-se agora.

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