São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011

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Ditador da Síria demite governo ante protestos

Assad deve fazer esperado discurso hoje, o 1º após o início das revoltas

Espera-se a revogação de lei de emergência de 48 anos; repressão aos opositores pelo governo já matou mais de 60

Youssef Badawi/Efe
Governistas fazem ato pró-ditador da Síria, Bashar Assad, em Damasco, após a série de protestos opositores recentes

DO "GUARDIAN"

O ditador da Síria, Bashar Assad, em sua primeira intervenção pública após o início dos protestos opositores, há dez dias, demitiu seu gabinete e sugeriu que poderá realizar reformas importantes.
A expectativa é que Assad faça o discurso mais importante de sua carreira política hoje, tentando conquistar a confiança de população que reivindica reformas amplas e liberdades democráticas.
É provável que o ditador revogue leis de emergência há 48 anos em vigor, que proíbem reuniões públicas, e anuncie uma repressão à corrupção, em uma tentativa de fugir da onda revolucionária que varre o Oriente Médio.
Protestos na escala dos vistos nos últimos sete dias são inusitados na Síria, onde um dos Estados mais repressores da região vem sufocando a dissensão, embora também garantindo estabilidade há mais de quatro décadas.
Grandes manifestações pró-governo foram promovidas na capital, Damasco, ontem, uma semana depois de batalhas campais entre manifestantes e forças de segurança, que dispararam contra manifestantes na cidade de Daraa, no sul do país, e no porto de Latikia, no norte.
Desde o início dos protestos, estima-se que mais de 60 pessoas já tenham morrido.
Os protestos ocorreram quando Assad -que sucedeu o pai, Hafez, em 2000 e vem governando com o mesmo poder absoluto- calculava concessões para apaziguar os cidadãos, sem, contudo, dar a impressão de estar capitulando diante deles.
"O que temos na Síria ainda não é revolução", disse um funcionário sírio ontem.
"É turbulência em busca de reformas legítimas. Assad é um presidente benquisto. Se houvesse uma eleição amanhã, acho que ele ganharia com 60% dos votos ou mais."
Os manifestantes sírios ganharam motivação com os levantes na região, e Assad enfrenta uma tarefa difícil: convencer os cidadãos sírios, na maioria pobres, que sua velha guarda lhes poderá oferecer a mesma participação política que foi agarrada triunfalmente pelos manifestantes na Tunísia e no Egito.

PAPEL REGIONAL
A classe governante síria pertence quase exclusivamente à seita alauíta, ramo do islã xiita. A população é sobretudo sunita, além das minorias cristã e drusa.
A Síria exerce papel destacado na geopolítica regional há muitos anos, mas vem ganhando importância nos últimos três anos, na medida em que os EUA vêm procurando afastá-la do regime iraniano.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, condenou o uso da violência pelas forças de segurança sírias.
Mas políticos americanos se mostram contidos, descrevendo Assad como reformista e insistindo que a intervenção na Líbia não se repetirá.

Tradução de CLARA ALLAIN


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