São Paulo, quarta-feira, 30 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANÁLISE

Regime sírio enfrenta ameaça sem precedentes a sua sobrevivência

SIMON TISDALL
DO "GUARDIAN"

A Síria enfrentou múltiplas crises durante os 11 anos de governo Bashar Assad, entre elas um imenso influxo de refugiados depois da invasão do Iraque em 2003; um levante curdo em 2004; o rompimento com o Líbano após o assassinato do líder libanês Rafik al Hariri; e o bombardeio israelense a um suposto reator nuclear em 2007. Mas nada ameaçou tão seriamente o poder de Assad ou a sobrevivência do regime quanto a crise em curso.
Os protestos no país não têm precedentes em termos de escala ou forma. De muitas maneiras, se assemelham às revoltas em outros países árabes -um urro de raiva contra a falta de oportunidades econômicas, as chances de vida limitadas dos jovens, a falta de liberdades e a corrupção oficial.
Mas há diferenças. O regime sírio, mais que qualquer outro, vem dependendo de uma obediência absoluta, imposta por um aparelho de segurança aterrorizante. A diferença agora é que a dissidência se tornou aberta, generalizada e incontrolável.
As autoridades insistem em que Assad é popular e que venceria uma eleição se ocorresse amanhã. É fato que Assad não é um Hosni Mubarak. Já mencionou diversas vezes a possibilidade de reformas e por um breve momento, durante a chamada primavera de Damasco, em 2000/2001, depois da morte de seu pai ultra-autoritário, a sociedade síria parecia pronta para romper seus grilhões.
O fracasso de Assad em promover mudanças se deve em última análise a ele.
Sua aparente incapacidade de modernizar a economia, o fato de continuar a depender das leis de exceção impostas pelo partido Baath depois do golpe de 1963, e a continuada falta de pluralismo político e liberdade de imprensa tornam obrigatório perguntar: por que alguém deveria acreditar nele agora?
A decisão de demitir todos os ministros pode ajudar a resolver essas dúvidas e também permitir que ele rompa de vez com a era de seu pai.
Mas ele precisará fazer mais. Sua tarefa é convencer a maioria dos sírios, que desejam reforma e não uma mudança de regime, de que o país pode começar de novo.
Outras medidas incluiriam a revogação das leis de exceção, uma campanha mais intensa de combate à corrupção e ordens às forças de segurança para que não ataquem a população.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Perfil: Assad não tinha como objetivo assumir o poder
Próximo Texto: Analistas apontam falhas na "doutrina Obama"
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.