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SAÚDE
Especialistas brasileiros, no entanto, dizem que a previsão é otimista e precipitada; EUA constatam aumento de casos
OMS alerta para risco de endemia de Sars
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou ontem que a
epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em
inglês) pode se transformar em
uma doença endêmica, caso novos surtos não sejam contidos.
Até ontem, a Sars havia matado
em todo o mundo 353 pessoas,
com 5.462 casos notificados.
A advertência foi feita por David
Heymann, chefe do setor de
doenças transmissíveis da OMS,
durante encontro de emergência
em Bancoc, na Tailândia, com líderes do Sudeste Asiático.
Na segunda, Heymann havia dito que o pior da epidemia já havia
passado em Hong Kong, Cingapura, Toronto e Vietnã. Ontem,
no entanto, ele disse que ainda
não motivos para comemoração.
"Certamente, o risco de a Sars se
tornar endêmica ainda é muito
grande", disse Heymann.
Uma doença é considerada endêmica quando ocorre de forma
constante numa região, mas sem
crescimento exponencial. É o caso
do mal de Chagas em algumas
áreas do Brasil, por exemplo.
Alerta otimista
O virologista Paolo Zanotto, do
Instituto de Ciências Biomédicas
da USP, entretanto, considera que
o alerta da OMS é otimista.
"Espero que ele esteja certo,
mas é muito cedo para uma afirmação dessa", disse, ressaltando
que até agora se sabe muito pouco
sobre o vírus causador da doença.
Para Zanotto, que está pesquisando o vírus, não está descartado
o risco de a Sars se tornar uma
pandemia -epidemia em escala
mundial. "É preciso estar muito
atento ao que está acontecendo
nos países de Terceiro Mundo,
principalmente Índia, África e
América Latina", disse.
Opinião semelhante tem o virologista Vicente Amato Neto, professor emérito da Faculdade de
Medicina da USP. "Além de ser
uma previsão otimista, ela não
tem sustentação, pois o surto não
está bem caracterizado", afirmou.
"Preocupa o fato de a transmissão ser por via respiratória", disse
Amato, que, no entanto, ressaltou
a rapidez com que o vírus foi
identificado e as medidas drásticas adotadas em países onde surgiram focos da doença.
Ásia
Em um esforço para restaurar a
imagem da China -criticada por
esconder casos de Sars no início
da epidemia-, o premiê Wen
Jiabao prometeu ontem em Bancoc que seu país fornecerá informações confiáveis sobre o problema no país, principal foco mundial da doença.
"O governo chinês está aqui
com um espírito de sinceridade",
disse Wen, no encerramento do
encontro, que reuniu líderes dos
dez países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean)
-da qual a China não participa.
Demonstrando que o governo
chinês está levando o problema a
sério, o premiê disse que "a epidemia de Sars será longa, complexa
e reincidente". No início deste
mês, Jiabao havia dito que a Sars
estava "controlada".
A China e a Asean anunciaram
uma série de medidas em conjunto, como inspeções rigorosas nos
aeroportos internacionais.
Estados Unidos
Os EUA registraram até ontem
52 casos prováveis e 220 casos
suspeitos, disse ontem a coordenadora dos Centros de Controle
de Doenças (CDC), Julie Gerberding, em audiência no Senado.
Os números divulgados são
bastante superiores ao casos registrados naquele país pela OMS
-41 casos acumulados até o último dia 25.
"Teremos de trabalhar muito
para prevenir o contágio da doença", disse Gerberding.
Segundo a virologista brasileira
Teresa Peret, pesquisadora da seção de vírus respiratórios do escritório central dos CDC, em
Atlanta, os dados devem ser vistos
com ressalva.
"Na verdade, "provável" e "suspeito" compartilham de um conceito: ausência de diagnóstico laboratorial confirmado", afirmou.
Ela explica que os EUA adotaram "definições amplas" da Sars,
para controlar melhor a doença.
"Seguramente não temos 272 casos da doença, senão estaríamos
sendo comparados com a China".
Com agências internacionais
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