São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2004

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Iraquianos deverão patrulhar Fallujah

DA REDAÇÃO

No terceiro dia de ataques contra Fallujah, os fuzileiros navais americanos fecharam um "acordo preliminar" para deixar a cidade sunita a oeste de Bagdá que se tornou o maior foco de tensão da ocupação iraquiana. A negociação pode pôr fim a quase um mês de impasse entre ocupantes e insurgentes, embora já ontem tenha ocorrido novos embates.
As primeiras informações divulgadas pelo Pentágono davam conta de que o acordo era definitivo, mas depois os militares em Fallujah o definiram como "preliminar" e disseram que ainda havia "pontos a serem trabalhados". Segundo um porta-voz do Pentágono, a deposição das armas pelos insurgentes -estimados em até 2.000 homens- ainda é a meta.
A novidade é a criação do Exército de Proteção de Fallujah, uma força composta por cerca de 1.100 iraquianos "com experiência militar" que substituirá os marines na segurança da cidade. A tropa será comandada por um general do antigo Exército iraquiano, identificado pelos EUA apenas como "general Salah", e pode incluir até mesmo homens que lutaram ao lado da insurgência, especialmente mercenários e ex-soldados.
"O EPF terá vantagens que não temos: eles são iraquianos e locais, logo, conhecerão a população e o terreno", disse o coronel Brennan Byrne porta-voz dos marines. Se o EPF tiver sucesso, os marines poderão entra na cidade para patrulhas conjuntas.
O movimento representa um recuo no tom dos americanos, que no fim da semana passada ameaçaram invadir a cidade e "extirpar" os insurgentes que nela se abrigam. Desde terça-feira, quando chegou ao fim um ultimato para a deposição de armas, os EUA vêm lançando ataques aéreos e terrestres na cidade.
Washington está sob grande pressão internacional para encontrar uma saída pacífica para o impasse, sob pena de ter seu plano de transição para o Iraque prejudicado e o apoio internacional ainda mais reduzido.
Anteontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, fez uma advertência contra o impacto que as operações em Fallujah -e as eventuais mortes de civis- teriam sobre a transição, a qual vem arbitrando a pedido dos EUA. A chancela da ONU é considerada essencial por muitos dos países juntos aos quais os EUA buscam apoio para sua política no Iraque.
Os marines cercaram Fallujah no início de abril, após a morte de quatro civis americanos e a violação de seus cadáveres. Daí seguiram-se confrontos, quais morreram cerca de 600 iraquianos, e depois duas semanas de negociação durante as quais vigorou um frágil cessar-fogo, interrompido pelos ataques de terça-feira.
As operações terrestres foram repetidas ontem, com novos tiroteios e explosões sobretudo no bairro de Jolã, onde ambulâncias mal conseguiam se movimentar. Ao menos quatro civis morreram, segundo a agência Reuters.
Os insurgentes e os fuzileiros navais chegaram a se confrontar em alguns pontos da cidade, e, segundo moradores, ao menos duas casas pegaram fogo. Mais três bombas de 250 kg foram jogadas sobre a cidade, informou o porta-voz dos marines, Danny Hernandez.
Numa aparente tentativa de avançar nas negociações, as tropas dos EUA libertaram o imã da principal mesquita da cidade, xeque Jamal Shaker Nazzal, preso desde outubro.


Com agências internacionais

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