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Estado de exceção abala comércio paraguaio
Presença de militares em Pedro Juan Caballero afasta os consumidores de Ponta Porã (MS), do outro lado da fronteira
Prefeito culpa narcotráfico brasileiro pela insegurança na cidade e diz que, se o governo não agir, local vai virar nova Ciudad Juárez
Orisvaldo Sales/Folha Imagem
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Brasileiros que dizem ter sido expulsos do Paraguai vivem em condições precárias em acampamento na beira da BR-163, em MS
GUSTAVO HENNEMANN
ENVIADO ESPECIAL A PEDRO JUAN CABALLERO (PARAGUAI)
O estado de exceção que entrou em vigor em cinco departamentos do Paraguai no último fim de semana afugentou
turistas e calou a noite da cidade de Pedro Juan Caballero, capital do departamento de
Amambay, localizada na fronteira com o Brasil.
Ontem, as centenas de lojas
que vendem roupas e eletrônicos a brasileiros viram seu movimento reduzido à metade, segundo os comerciantes.
Separada da cidade brasileira
de Ponta Porã (MS) por apenas
uma rua, Pedro Juan Caballero
funciona como um grande atacado comercial para sacoleiros
e um entreposto para traficantes de drogas. A cada esquina se
encontra uma casa de câmbio.
As lojas, que são praticamente
emendadas uma na outra,
mantêm seguranças privados,
armados invariavelmente de
espingardas calibre 12.
Apesar de mais grave hoje, a
sensação de insegurança não é
nova. Em uma praça do centro,
o busto de um jornalista lembra
seu assassinato em 1991. Foi
morto a tiros por narcotraficantes por "falar demais", segundo moradores da cidade.
"Aqui sempre foi terra de
ninguém. É só cruzar uma rua
para escapar da polícia. O Estado só impõe respeito quando
manda o Exército. Quando [os
militares] se forem, a desordem
volta", diz o comerciante coreano Alfredo Chun, 57.
O lojista brasileiro Jorge
Gonçalves, 29, que vende eletroeletrônicos na cidade paraguaia, vê desvantagem na presença temporária dos militares.
"Para o comércio é negativo. Os
brasileiros [clientes] acham
que há um clima de guerra e
que está tudo dominado pelos
traficantes", diz Gonçalves.
Na noite de anteontem, quatro caminhões esparramaram
soldados armados pelas principais avenidas. Os carros com
música em alto volume e grupos que se reuniam habitualmente para beber cerveja na
rua sumiram, segundo os moradores locais.
Ontem, rádios locais explicavam as normas do estado de exceção -que tem como objetivo
oficial deter o Exército do Povo
Paraguaio, guerrilha que luta
contra a concentração fundiária, e não o narcotráfico- e pediam à população para que não
realizasse festas ou reuniões.
Ou que pedissem licença à polícia e à prefeitura para fazê-lo.
Aproximadamente 200 militares patrulharam ruas e fizeram buscas em condomínios
privados na tentativa de capturar envolvidos no atentado
contra o senador Robert Acevedo. Na última segunda-feira,
sua camionete foi metralhada
em Pedro Juan Caballero.
Duas
pessoas morreram e Acevedo
foi atingido por dois tiros de
raspão. Protegido por dez seguranças, ele agora se recupera
em casa.
O prefeito da cidade, José
Carlos Acevedo, irmão do senador baleado, diz que os comandantes do narcotráfico e responsáveis pelo atentado contra
seu irmão são brasileiros, que
têm a ação facilitada pela corrupção da polícia paraguaia e
pela falta de controle na fronteira seca.
Após o atentado contra o senador, a polícia paraguaia deteve quatro brasileiros, suspeitos
de terem vínculos com a facção
criminosa paulista PCC.
Segundo o prefeito de Pedro
Juan Caballero, o presidente
do Paraguai, Fernando Lugo,
prometeu que o maior efetivo
policial e o controle mais duro
na fronteira com o Brasil serão
mantidos mesmo após o fim do
estado de exceção, que tem duração de 30 dias prorrogáveis
por mais 30. Ontem, Lugo esteve na cidade para visitar o senador Acevedo e conversar com
autoridades locais.
"Aqui 99% das pessoas são
trabalhadores. Falta mais presença do Estado. Mas acho que
é possível solucionar. Senão,
vamos nos tornar uma Ciudad
Juárez [cidade mexicana conhecida pelos massacres entre
cartéis]", disse o prefeito à Folha em seu escritório particular, vigiado por três seguranças
armados com metralhadoras.
Fazendeiro e dono de postos
de combustível, José Carlos
pertence ao Partido Liberal Radical Autêntico, sigla do vice-presidente paraguaio Federico
Franco, atualmente em litígio
com Lugo.
Veja perguntas e
respostas sobre o estado
de exceção no Paraguai
www.folha.com.br/1011914
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