São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Polícia reconhece erros pré-11 de setembro e passa a colocar ações antiterror como prioridade maior

FBI se reorganiza e contrata 900 agentes

DA REDAÇÃO

Depois de receber críticas por sua performance pré-atentados de 11 de setembro, o FBI (polícia federal dos EUA), anunciou que fará a reorganização de sua "estrutura, cultura e missão". Isso se dará para "enfrentar as ameaças da era de ataques terroristas contra os EUA", disse o secretário da Justiça, John Ashcroft.
Ashcroft e o diretor do FBI, Robert Mueller, reconheceram publicamente que o órgão falhou também em se adaptar de modo rápido à nova realidade que se seguiu aos ataques de setembro.
"Embaraçoso." Foi assim que Mueller classificou a atuação do órgão que dirige. "Ficou mais claro do que nunca que temos de mudar", afirmou.
A prioridade número 1 do FBI passa a ser evitar que outros ataques terroristas ocorram nos EUA -antes era prioritário investigar casos criminais.
Para essa mudança de prioridades, o setor antiterrorismo será reforçado e cerca de 900 novos agentes contratados -muitos deles especialistas em computação, línguas e áreas científicas.
Ao final da reestruturação, mais de 3.700 agentes, entre os vindos do FBI e pessoal das agências federais e dos órgãos policiais estaduais, estarão focados em atividades de prevenção ao terrorismo.
Isso significa ainda que 520 agentes serão realocados, deixando suas funções originais de combate ao tráfico -que agora só caberá à DEA (agência antidrogas)-, aos crimes violentos e aos de colarinho branco.
Um Escritório de Inteligência será formado para centralizar as análises de informações colhidas no país inteiro e para estreitar as relações com a CIA (agência de inteligência). Um agente da CIA deve chefiar esse escritório.
Além disso, 25 agentes da CIA serão "emprestados" para treinar pessoal do FBI em análise.

CIA e FBI
A frágil e desencontrada inter-relação CIA-FBI foi apontada como uma das principais deficiências na manipulação e na análise de dados que poderiam ter levado a evitar os ataques de setembro.
A própria estrutura burocrática dos dois órgãos contribuiu para isso. O FBI responde ao Departamento de Justiça e é o seu principal órgão de investigação.
O FBI dá apoio a outras agências de "imposição da lei" e conduz investigações criminais específicas. Investigações sobre espionagem interna, tráfico, sequestro e crimes do colarinho branco estão entre suas tarefas.
Já a CIA é uma agência diretamente subordinada ao presidente e dá apoio ao Conselho de Segurança Nacional e a outras autoridades que executam a política de segurança nacional dos EUA. Ela age em atividades de contra-inteligência e de informação estrangeira, não atuando em casos criminais internos.

Autocrítica
Fazendo uma autocrítica em relação ao FBI, Mueller disse: "Nossa capacidade de análise não é a que deveria ser. Temos de fazer um serviço muito melhor em recrutamento, gerenciamento e treinamento de nossa força de trabalho. E também na coleta, na análise e no compartilhamento das informações".
O diretor do FBI estava reconhecendo a falta de agilidade em ligar informações coletadas e analisá-las agilmente.
O exemplo mais evidente foi a desconexão entre o relatório feito por um agente em Phoenix (sul do país), que pedia a investigação de alunos originários do Oriente Médio em escolas de aviação americanas, e um outro em Minneapolis (norte), que investigava Zacarias Moussaoui e chegou a alertar para a possibilidade de ele jogar um avião contra o World Trade Center. Moussaoui, detido nos EUA, foi depois considerado um dos principais organizadores dos atentados. Mueller afirmou também que muitas outras pistas podem ter sido perdidas.
"Olhando hoje, não posso dizer com certeza que não poderíamos ter chegado a uma pista que nos levasse aos sequestradores [dos aviões usados nos atentados"", disse Mueller ontem.


Com agências internacionais


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