São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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Cerimônia marca fim de limpeza de escombros no WTC

Associated Press
Última viga de aço dos escombros do World Trade Center é retirada por guindaste, em Nova York


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Acabou. Na noite de anteontem, a última viga de aço do que um dia foi o World Trade Center foi cortada do chão, embrulhada numa bandeira dos EUA e colocada num caminhão. A cerimônia marcava o começo do final das atividades de limpeza e resgate no local, que tem sua maior homenagem prevista para a manhã de hoje em Nova York.
Às 10h29 (11h29 de Brasília), mesmo horário em que desabava a Torre Norte, a segunda a ceder no complexo de prédios do sul de Manhattan, um membro do Corpo de Bombeiros vai tocar um sino em código Morse com a mensagem de "soldado morto".
Então, todos farão silêncio.
A coluna removida antes será simbolicamente retirada por um caminhão. Uma procissão o seguirá. A pedido do prefeito da cidade, Michael Bloomberg, ninguém fará discursos, nem ele, atitude que seria impensável na gestão de seu antecessor, Rudolph Giuliani, que estará presente.
A calma aparente, no entanto, esconde dias de polêmica que antecederam a cerimônia e que terminaram com a prefeitura cedendo aos parentes das vítimas. O problema foi a data escolhida. Grande parte dos familiares reclamou de ser um dia de semana, o que os faria faltar no trabalho.
"Eu tinha de eleger um dia, qualquer dia", defendeu-se o prefeito. "Sexta, sábado e domingo são sagrados para três religiões diferentes. Quinta-feira me pareceu então uma boa idéia." Poucos concordaram com ele.
Os mais ácidos foram à imprensa dizer que Bloomberg tinha evitado o fim de semana para poder viajar para sua casa nas Bermudas, prática inaugurada em sua gestão e que já ganhou as páginas dos tablóides, virando piada nos "talk shows" das TVs.
Irritado, ele respondeu que os insatisfeitos deveriam ver a cerimônia pela TV, o que gerou mais protestos. "Como assim, pela TV? Não é uma final de beisebol", disse uma viúva.
Por fim, a Prefeitura de Nova York cedeu e marcou uma segunda cerimônia para este domingo, sem a mesma pompa.

Testes de DNA
O cronograma foi de fazer inveja a qualquer obra pública: 260 dias de trabalho -menos do que os 12 meses previstos- para retirar 1,8 milhão de toneladas de entulho, o que ocupou 1,5 milhão de horas de trabalho pagas a um custo de US$ 3 bilhões, nem um centavo a mais do que o combinado.
O resultado, porém, é desolador, menos pela competência dos trabalhadores do que pela natureza do lugar, que já foi chamado de a maior cena de crime da história da humanidade. Nas 37 semanas, foram identificados 1.092 pessoas das 2.823 vítimas, a maior parte com testes de DNA.
Agora, Nova York deve decidir o que fazer com os 64 mil metros quadrados finalmente limpos. O espaço onde ficava a última torre a desabar, no fim da tarde de 11 de setembro, já está sendo trabalhado para receber um prédio parecido com o anterior.
A discussão sobre a forma e o tamanho do memorial às vítimas e o que construir no resto do espaço continua, mas um consenso vai tomando forma. Segundo a tendência majoritária, parte do espaço receberá praça e museu em homenagem aos mortos.
Sobrariam assim entre 24 mil e 36 mil metros quadrados, dependendo da proposta aprovada. A prevalecer a vontade da prefeitura, que começa a ganhar apoio do Estado, o espaço será ocupado por prédios residenciais e, principalmente, comerciais.
Além disso, como a cidade gastou apenas US$ 3 bilhões dos US$ 9,1 aprovados pelo Congresso para a região, Bloomberg deve usar o excedente para melhorar o transporte e a segurança na região.
Vai juntar o total com outro pacote aprovado por Washington, de US$ 1,8 bilhão e especificamente para transportes, e implantar um ambicioso plano que cria um novo entroncamento subterrâneo de metrô, interligado com linhas de ônibus e das balsas que vão para Nova Jersey.



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