São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Naquele ano, Itália gravou diálogo de suspeitos da Al Qaeda sobre um grande atentado, uso de aviões e os EUA

Fita de 2000 sugere plano do 11 de setembro

DA REDAÇÃO

A polícia italiana gravou conversas entre dois militantes islâmicos supostamente pertencentes à rede terrorista Al Qaeda nos 13 meses que antecederam os atentados de 11 de setembro. Nas fitas, eles fazem referências a planos de ataques envolvendo aviões, aeroportos e os EUA.
Trechos desses diálogos foram publicados pelo diário milanês "Corriere della Sera" e pelo americano "Los Angeles Times". Segundo autoridades dos EUA, as duas pessoas -o xeque do Iêmen Abdulsalam Abdulrahman e Abdelkader Mahmoud Es Sayed, líder de uma mesquita de Milão - teriam ligações com a rede liderada pelo saudita Osama bin Laden.
Es Sayed, que tem cidadania egípcia, deixou a Itália dois meses antes dos ataques -possivelmente para o Afeganistão. Funcionários dos serviços de inteligência americanos acreditam que ele tenha sido organizador de uma célula da Al Qaeda em Milão.
Um relatório das investigações da polícia italiana diz haver "vários elementos interessantes sobre o relacionamento de Es Sayed com células na Alemanha e nos EUA". Mohammed Atta, suposto líder dos sequestradores dos aviões usados na ação, tinha base em Hamburgo (Alemanha).
Em conversa gravada em 16 de agosto de 2000 no carro de Es Sayed, que acabara de buscar o iemenita no aeroporto de Bolonha, o xeque diz que o ataque seria "desses que nunca são esquecidos". "Será algo aterrorizante, repercutirá de sul a norte, de leste a oeste. Aquele que fez esse plano é um homem louco de hospício, mas um gênio. Ele tem fixação por esse programa; todos vão virar gelo com ele."
Massimo Mazza, chefe da unidade de combate ao terrorismo de Milão, confirmou a autenticidade das conversas. Seu escritório entregou a transcrição das fitas há poucos dias ao promotor Stefano Dambruoso, responsável pelos processos no país contra integrantes da Al Qaeda.
Na transcrição de uma conversa de janeiro de 2001 entre o clérigo baseado em Milão e um tunisiano posteriormente preso na Itália, há uma discussão sobre o uso de documentos falsos. "Eles [os documentos" são necessários para nossos irmãos que irão aos EUA?", indaga o tunisiano. "Jamais repita essas palavras! Nem mesmo de brincadeira", adverte Es Sayed. "Se for necessário, em qualquer lugar que seja, venha e fale ao meu ouvido, porque essas coisas são muito importantes. Você deve saber (...) que este plano é muito, muito secreto. É como se você estivesse protegendo a segurança do Estado."
Mazza disse que, antes de 11 de setembro, os investigadores tinham poucas pistas sobre a que eles se referiam. "Depois do que aconteceu, agora fica fácil tirar conclusões."
Segundo ele, os grampos foram colocados nos locais em que os suspeitos se encontravam e não em linhas telefônicas. Isso dificultou o trabalho das autoridades, que gastavam tempo limpando os ruídos e traduzindo as fitas.
O FBI (polícia federal americana) -alvo de críticas atualmente pela forma como lidou com alertas que poderiam ter evitado os atentados- ajudou os especialistas italianos a decifrarem o teor das conversas, de acordo com o "Corriere della Sera".
Autoridades do FBI e do Departamento da Justiça disseram que estudariam as transcrições das fitas. Um alto funcionário disse ao "LA Times" acreditar que um pequeno número de agentes dos EUA já conhecia o teor das fitas.


Com agências internacionais



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