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COMENTÁRIO
Chávez sai vitorioso, mas ainda corre riscos
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O acordo assinado ontem em
Caracas é uma vitória do governo
sobre a oposição, enfraquecida
após o fracasso de sua greve geral
de 62 dias, no início do ano, que
tinha como objetivo a renúncia de
Hugo Chávez. O presidente resistiu à pressão, venceu a queda-de-braço e agora dá as cartas.
Os termos do acordo não garantem a realização de um referendo
para revogar o mandato de Chávez, como quer a oposição, mas
apenas dizem que a Constituição,
que prevê essa possibilidade, deve
ser respeitada. Para isso, a oposição terá que cumprir uma série de
requisitos, entre eles o recolhimento de ao menos 2,5 milhões
de assinaturas (20% do eleitorado) a favor da votação.
A exigência de eleições gerais já
foi abandonada pela oposição,
que agora aceita a realização do
referendo em novembro ou dezembro, respeitando os prazos estabelecidos pela lei. O acordo
também não tocou em um ponto
que, até algumas semanas atrás,
era colocado como pré-requisito
para um acordo pela oposição: a
reincorporação de 4.000 funcionários grevistas da PDVSA, a estatal petroleira, demitidos durante a
paralisação do início do ano.
Outro ponto do acordo em que
o governo leva vantagem é o que
estabelece o fim dos trabalhos da
mesa de diálogo e sua substituição por uma comissão que fiscalizará o cumprimento do acordo.
Com isso, a oposição perderá o
principal foro de discussões para
suas demandas.
Na eventualidade de a oposição
cumprir os requisitos legais e o referendo ocorrer efetivamente no
final do ano, a oposição terá ainda
de lutar para conseguir mais votos que os 3,76 milhões (59% do
total) que obteve Chávez quando
foi eleito, em 2000, como determina o artigo da Constituição sobre
referendos. De acordo com as
pesquisas, os venezuelanos descontentes com Chávez estão em
torno de 65%, o que não garante
uma vantagem confortável para
vencer a votação.
Apesar de tudo isso, Chávez
ainda corre riscos. O acordo com
a oposição lhe deu fôlego para sobreviver no cargo ao menos até
novembro, mas o tempo também
pode jogar contra ele.
Com uma taxa de desemprego
de 19,8% (divulgada ontem) e
uma queda no Produto Interno
Bruto de 29% no primeiro trimestre, só comparada à de países em
guerra, Chávez corre o risco de
perder a última parcela de apoio
que lhe resta, o da camada mais
pobre da população, se não conseguir reverter a crise econômica.
Por fim, o governo se comprometeu, no acordo com a oposição,
a não tentar mudar as leis eleitorais, o que elimina algumas de
suas possibilidades legais para
tentar evitar o referendo.
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