São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2007

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Chávez ameaça TV e ataca estudantes

Enfrentando protestos pelo fim das atividades da RCTV, presidente venezuelano diz que pode fechar outra emissora

Segundo Hugo Chávez e parlamentares governistas, estudantes que têm se manifestado contra fim da rede de TV são manipulados


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Enfrentando o quarto dia seguido de protestos em várias partes do país contra o fim das transmissões da RCTV, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, fez ontem ameaças à emissora Globovisión, a única abertamente crítica ao seu governo, e desqualificou as marchas dos estudantes universitários.
"Quero advertir o povo venezuelano (...) sobre as ações de rua que estão tentando incentivar. [Alerto] alguns meios de comunicação que estão brincando, como sempre, com a desestabilização", disse Chávez, em discurso durante ato público transmitido em rede nacional de rádio e TV.
Sobre a rede de TV Globovisión, tradicional opositora a Chávez, o presidente voltou a acusá-la de incentivar seu assassinato e ameaçou: "Meçam até onde querem chegar. Tomem calmantes e ajam nos conformes, porque, caso contrário, eu mesmo os colocarei [nos conformes]".
"Se vão continuar chamando à desobediência e incitando o magnicídio", disse Chávez, deverão "assumir as conseqüências". O presidente venezuelano qualificou os meios de comunicação oposicionistas de "inimigos da pátria" e "apátridas" e exortou o governo a vigiá-los "minuto a minuto".
Apesar de a Globovisión ser a única emissora crítica a Chávez atualmente no ar, grande parte dos jornais e das rádios do país não está alinhada com o governo venezuelano.
Chávez ainda desqualificou os protestos de universitários dos últimos dois dias ao afirmar que "não representam a maioria desse setor". Disse ainda que estão sendo "manipulados" pelos interesses "obscuros" da oposição. "Faço um chamado às mães e aos pais (...) Os que os estão usando estão procurando mortos [para estimular ações contra o governo]", afirmou.
Em discurso recheado de referências ao frustrado golpe que sofreu em 2002, disse que, se for necessário "lançar outro 13 de abril", ele mesmo o comandaria, em alusão ao dia em que voltou ao poder.
"Irmão que está nos morros de Caracas, que está lá no Petare, alerta o povo, lá em Catia, no 23 de Enero, alerte o povo em todo o país (...) Se tivermos que lançar outro 13 de abril, eu comandarei o 13 de abril", disse, mencionando vários bairros pobres da capital venezuelana onde concentra grande apoio.

Assembléia
Em tom ainda mais duro do que Chávez, deputados governistas fizeram várias acusações contra os manifestantes em discursos na Assembléia. Luis Tascón disse que "há um golpe de Estado em andamento" com apoio da Globovisión e exortou os militantes chavistas a expulsarem os estudantes das ruas.
"A rua é nossa. Retomemos a rua, que a rua é do povo, e não da oligarquia", discursou. Em outra grande manifestação ontem, estudantes vestidos de vermelho da Universidade Bolivariana da Venezuela, criada por Chávez, marcharam até o Palácio Miraflores para dar apoio ao governo.
A RCTV, que não teve sua concessão renovada, deixou de transmitir às 23h59 de domingo e foi substituída pela estatal Tves.


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