São Paulo, segunda, 30 de junho de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FORÇAS ARMADAS
Pequim quer evitar incidentes; habitantes do território temem corrupção por causa dos baixos salários
Soldados da China aprendem 'delicadeza' e inglês para amenizar choque cultural

ALEXANDRA SCWARZBROD
CAROLINE PUEL
do "Libération"

Os soldados chineses que vão entrar em Hong Kong receberam uma formação especial -cursos de inglês, aprendizado de controle "delicado" de manifestações, treinamento em artes marciais- para amenizar o "choque cultural" que os espera em Hong Kong.
Pequim, que quer demonstrar sua capacidade de promover uma transição pacífica, tenta evitar deslizes diante de uma platéia de mais de 8.000 jornalistas estrangeiros, que vão acompanhar atentamente cada movimento dos 4.000 militares chineses que começam a entrar no território a partir das 6h de amanhã (19h de hoje no Brasil).
Mas toda a cautela chinesa não impediu incidentes. Na semana passada, por exemplo, o Exército de Libertação Popular cancelou uma linha de ônibus que atravessa uma área militar. Várias famílias, cujos filhos utilizam a linha para chegar à escola, protestaram. Numa decisão inédita, o Exército resolveu abrir um serviço de comunicação para queixas da população, noção totalmente desconhecida na China continental.
Diferença social
Além da convivência com outra população, os soldados devem enfrentar outros grandes problemas, o maior sendo o de moradia.
Como o salário da maioria deles é o equivalente a um terço do que ganha uma empregada doméstica no território, é improvável que eles consigam se instalar na área urbana de Hong Kong -uma das cidades mais caras do mundo- e tenham de viver na periferia.
Mas o medo maior em Hong Kong é que os militares chineses recriem, no território, atividades paralelas que costumam praticar na China -bares, hotéis (que funcionam como fachadas para bordéis) e até fábricas de armas.
O primeiro contingente chinês (196 homens) está em Hong Kong desde o final de abril, preparando a chegada dos seus colegas.
Após duras negociações nos últimos dias, os britânicos finalmente aceitaram que mais 509 soldados entrem no território três horas antes da cerimônia de devolução.
A medida foi exigida pelo presidente chinês, Jiang Zemin, com o objetivo de garantir a segurança dos dirigentes internacionais.
Enquanto a colônia britânica passa ao controle chinês, as tropas de sua majestade vão "desaparecer" rapidamente.
Durante a madrugada decolam dois aviões levando os últimos militares restantes. À 1h, os navios da Marinha Real levantam âncora e partem para Manila (Filipinas). O iate real, o Britannia, transportará uma parte dos oficiais britânicos, além do príncipe Charles e do governador Chris Patten.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.