São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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CHOQUE NO MAR

Vizinhos culpam um ao outro por iniciar conflito, ocorrido horas antes da disputa pelo 3 lugar na Copa

Batalha naval entre Coréias mata quatro

DA REUTERS

As Coréias do Norte e do Sul se acusaram mutuamente por uma batalha naval que deixou quatro marinheiros sul-coreanos mortos e lançou dúvidas sobre os esforços para a reconciliação da península. O incidente ocorreu algumas horas antes de a seleção da Coréia do Sul disputar -e perder- o terceiro lugar da Copa do Mundo para a Turquia.
A Coréia do Sul disse que navios norte-coreanos se infiltraram pela fronteira marítima em disputa pelos dois países e atiraram contra barcos sul-coreanos, matando quatro marinheiros e ferindo 19.
A Coréia do Norte afirma que não fez incursão alguma e acusa o vizinho de "grave provocação".
O ministro da Defesa sul-coreano, Kim Dong-shin, disse que um de seus navios foi afundado no mar Amarelo, 170 km a oeste do Aeroporto Internacional de Inchon, pelo qual passaram os jogadores e torcedores que participaram da Copa na Coréia.
Em entrevista coletiva, o tenente-general sul-coreano Lee Sang-hee afirmou que os navios norte-coreanos atiraram primeiro. Já o ministro Kim divulgou comunicado em que diz que estava "absolutamente claro que toda a responsabilidade pelo incidente estava com a Coréia do Norte".
"Nosso governo protesta solene e fortemente e exige desculpas bem como a punição dos responsáveis por esta pouco razoável provocação", continua o comunicado divulgado pelo ministério.
A batalha, que teve 20 minutos de duração, aconteceu na mesma região em que dezenas de marinheiros norte-coreanos foram mortos em junho de 1999, depois de nove dias de incursões norte-coreanas no sul na primeira batalha naval desde a Guerra da Coréia (1950-53).
A Agência Central de Notícias da Coréia do Norte (ACNC) disse, citando fontes militares, que "o Exército sul-coreano cometeu graves provocações, como disparar contra barcos de patrulha das forças navais do Exército do Povo da Coréia que realizavam operações de rotina no mar ocidental da Coréia".
"Em retaliação, navios de guerra foram compelidos a tomar medidas defensivas. Como resultado, houve troca de tiros entre os dois lados, o que provocou perdas", completou a ACNC.
O presidente da Coréia do Sul, Kim Dae-jung convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional para discutir o assunto. "Nós não podemos tolerar isso. É um óbvio rompimento do acordo de armistício", disse Kim em comunicado.
As Coréias do Norte e do Sul estão divididas desde a guerra de 1950-53 e, tecnicamente, ainda estão em guerra, pois nunca assinaram um tratado de paz.
O presidente Kim vinha mantendo uma política de reaproximação com a Coréia do Norte que lhe valeu o prêmio Nobel da Paz. Um secretário de Kim disse que ele manteria os planos de viajar ao Japão para assistir à final da Copa hoje. No jogo entre a Coréia do Sul e Turquia, ontem, jogadores observaram um minuto de silêncio pelas vítimas do incidente.
O Grande Partido Nacional (GPN), que se opõe à política de reconciliação de Kim, criticou a ajuda econômica que a Coréia do Sul dá ao Norte. Para o GPN, o Norte é "ingrato" e joga "água fria na reconciliação". "Como a provocação ocorreu bem quando as festividades da Copa se encerram com sucesso, só podemos suspeitar de que esta foi uma ação deliberada e muito planejada", disse o GPN em comunicado.
"Espero que as ações não tenham sido motivadas pela Copa", disse Chung Mong-joon, presidente da Associação Sul-Coreana de Futebol. Chung é visto como um potencial candidato à Presidência nas eleições de dezembro.
Algumas horas antes do incidente, os EUA haviam proposto enviar à Coréia do Norte um representante de alto nível para retomar o diálogo entre os dois países, que foi rompido no início da administração Bush. Os EUA mantêm 37 mil soldados na Coréia do Sul.


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