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São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Hamas, Jihad e Fatah decretam cessar-fogo, mas fazem exigências; tropas de Israel deixam norte da faixa de Gaza

Terror anuncia trégua; Israel faz retirada

Suhaib Salem/Associated Press
Oficiais palestino (à dir.) e israelense se reúnem na faixa de Gaza


DA REDAÇÃO

Os dois principais grupos terroristas palestinos e o maior grupo político palestino anunciaram oficialmente ontem um cessar-fogo nas ações contra alvos israelenses, e o Exército de Israel se retirou do norte da faixa de Gaza.
As duas ações -que devem dar um novo alento ao novo plano de paz para o Oriente Médio- são os movimentos mais fortes em direção ao fim dos 33 meses de violência na região, que já deixou mais de 3.000 mortos.
A trégua inclui o fim das ações inclusive na Cisjordânia e na faixa de Gaza -áreas ocupadas por Israel na guerra árabe-israelense de 1967. Israel recebeu com ceticismo o anúncio. Os EUA consideraram a trégua "positiva", mas fizeram ressalvas.
Apesar das declarações de cessar-fogo, o Exército de Israel afirmou que militantes palestinos dispararam contra colonos judeus no assentamento de Kiryat Arba, perto de Hebron (Cisjordânia), sem deixar vítimas. Nenhum grupo assumiu a ação.
Em declaração conjunta, o Hamas e o Jihad Islâmico se comprometeram com uma trégua de três meses, desde que Israel cumpra uma série de condições, como o fim dos ataques seletivos, das incursões e dos bloqueios militares.
A declaração pediu ainda a libertação de prisioneiros palestinos e o fim do cerco ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, preso há meses em seu QG em Ramallah (Cisjordânia).
Já o Fatah, facção política de Arafat e do premiê Mahmoud Abbas, mais conhecido como Abu Mazen, anunciou uma trégua de seis meses. O braço armado do grupo, as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, já cometeu dezenas de ataques terroristas. O Fatah fez exigências similares às do Hamas e do Jihad Islâmico.
Arafat -assim como Marwan Barghouti, uma das lideranças do Fatah e atualmente preso em Israel- participou das negociações para o cessar-fogo, que também envolveram Mazen.
Se Israel não cumprir com as condições, Abdel Aziz Rantissi -líder do Hamas ferido em ataque israelense no início do mês- disse que os grupos palestinos "irão responder de todas as maneiras à nossa disposição".
A Frente Popular pela Libertação da Palestina e outros grupos terroristas menores não participaram do anúncio de cessar-fogo.
Israel se mostrou cético em relação ao anúncio dos grupos palestinos, afirmando que se trata de uma bomba-relógio e que os terroristas utilizariam a trégua para se reagrupar e se rearmar para cometer novos atentados.
"Caso aconteça outro ataque, eles irão dizer que foi a ação de um indivíduo que desobedeceu a liderança", afirmou o chanceler israelense, Silvan Shalom.
Israel exige que os grupos terroristas sejam desmantelados, com a prisão de seus membros e o confisco de suas armas, conforme prevê o plano de paz para a região.
A ANP diz que quer desmantelar os grupos armados clandestinos, mas teme que um confronto com os terroristas leve a uma guerra civil palestina. Ela quer utilizar o cessar-fogo para trazer os grupos para o campo político.
Analistas afirmam que Mazen neste momento não tem força para enfrentar os terroristas e espera se fortalecer com uma trégua e concessões de Israel, como a retirada de ontem.
A Casa Branca afirmou, por meio da porta-voz Ashley Snee, que "qualquer coisa que reduza a violência é um passo na direção certa". Mas, acrescentou, "as infra-estruturas terroristas precisam ser desmanteladas".
Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional do presidente dos EUA, George W. Bush, se reuniu no sábado com Mazen e esteve ontem com o premiê israelense, Ariel Sharon.

Retirada
Apesar da declarada desconfiança da trégua, Israel já sinalizou que deve interromper o que chama de ataques preventivos contra terroristas palestinos, que costumam também atingir civis.
Além disso, os israelenses já iniciaram a retirada das áreas palestinas. Ontem a cidade de Beit Hanoun, no norte da faixa de Gaza, foi desocupada. Nos próximos dias, os israelenses devem se retirar de Belém (Cisjordânia).
A segurança dessas áreas passará ao controle da ANP. A medida serve de teste para a capacidade do novo governo de Mazen de conter os terroristas. Caso a ANP seja bem-sucedida, outras áreas palestinas serão desocupadas.

Com agências internacionais


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