São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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"Não houve celebração", diz Amanpour

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Na surdina por temor da insurgência e sem festa nas ruas por desconfiança da população, assim foi a transição do poder no Iraque anteontem, segundo a correspondente-chefe da CNN, Christiane Amanpour, 46. No país desde o último dia 14, a jornalista britânica de origem iraniana que cobriu diversos conflitos contou por telefone à Folha suas primeiras sensações sobre a "soberania" iraquiana. Leia trechos da entrevista.
 

Folha - Como a notícia da antecipação da transição chegou à sra.?
Christiane Amanpour -
Nós não sabíamos até a última hora. Mesmo quando fomos chamados para a entrevista coletiva na zona verde [quartel-general da ocupação], disseram-nos que seria um briefing de recapitulação de Paul Bremer, agora o ex-administrador americano do Iraque. Disseram-nos que viéssemos e não trouxéssemos a câmera. Quando chegamos, descobrimos que seria a transferência de soberania e que haveria uma única câmera cujas imagens seriam compartilhadas e alguns poucos jornalistas no local.

Folha - A sra. acha que a antecipação e todo esse clima de segredo se devem à insurgência?
Amanpour -
Sim, estou convencida de que essa foi a razão.

Folha - Qual foi a reação?
Amanpour -
Acho que as pessoas estão contentes, como qualquer um ficaria em reconquistar sua soberania. Mas foi [uma reação] silenciosa. Não houve celebração, não houve tiros para o alto, uma coisa muito comum em ocasiões importantes por aqui. As pessoas sabem que há desafios enormes com os quais o governo terá que lidar, como a segurança. Os soldados americanos ainda estarão aqui, mas 15 meses de presença americana não acabaram com a insurgência. A grande preocupação é como esse governo vai lidar com isso, se ele dará conta.

Folha - Eles estão confiantes?
Amanpour -
Eles parecem querer ter esperança em seu governo, mas muitos estão céticos, acham que o poder real está com os EUA. Também há quem ache que é um começo, mas ninguém crê que tudo se resolva no futuro próximo.

Folha - O que é possível esperar que mude com essa transição?
Amanpour -
Pouca coisa no curto prazo. A presença militar americana ainda será visível nas ruas, e eles manterão um papel proeminente. Até que as forças iraquianas estejam atuando a plena capacidade, boa parte da responsabilidade pela segurança será dos americanos. Não há muita diferença. Bom, exceto no lado político, pois agora cabe ao governo iraquiano lidar com os serviços elétricos, com o Orçamento, enfim, com essas coisas de que os governos normalmente cuidam. Ainda assim, haverá essa embaixada enorme dos EUA aqui, com um número enorme de pessoas, o que ainda representa um grande grau de influência e de apoio.


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