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"Não houve celebração", diz Amanpour
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
Na surdina por temor da insurgência e sem festa nas ruas por
desconfiança da população, assim
foi a transição do poder no Iraque
anteontem, segundo a correspondente-chefe da CNN, Christiane
Amanpour, 46. No país desde o
último dia 14, a jornalista britânica de origem iraniana que cobriu
diversos conflitos contou por telefone à Folha suas primeiras sensações sobre a "soberania" iraquiana. Leia trechos da entrevista.
Folha - Como a notícia da antecipação da transição chegou à sra.?
Christiane Amanpour - Nós não
sabíamos até a última hora. Mesmo quando fomos chamados para a entrevista coletiva na zona
verde [quartel-general da ocupação], disseram-nos que seria um
briefing de recapitulação de Paul
Bremer, agora o ex-administrador americano do Iraque. Disseram-nos que viéssemos e não
trouxéssemos a câmera. Quando
chegamos, descobrimos que seria
a transferência de soberania e que
haveria uma única câmera cujas
imagens seriam compartilhadas e
alguns poucos jornalistas no local.
Folha - A sra. acha que a antecipação e todo esse clima de segredo
se devem à insurgência?
Amanpour -Sim, estou convencida de que essa foi a razão.
Folha - Qual foi a reação?
Amanpour -Acho que as pessoas
estão contentes, como qualquer
um ficaria em reconquistar sua
soberania. Mas foi [uma reação]
silenciosa. Não houve celebração,
não houve tiros para o alto, uma
coisa muito comum em ocasiões
importantes por aqui. As pessoas
sabem que há desafios enormes
com os quais o governo terá que
lidar, como a segurança. Os soldados americanos ainda estarão
aqui, mas 15 meses de presença
americana não acabaram com a
insurgência. A grande preocupação é como esse governo vai lidar
com isso, se ele dará conta.
Folha - Eles estão confiantes?
Amanpour -Eles parecem querer
ter esperança em seu governo,
mas muitos estão céticos, acham
que o poder real está com os EUA.
Também há quem ache que é um
começo, mas ninguém crê que tudo se resolva no futuro próximo.
Folha - O que é possível esperar
que mude com essa transição?
Amanpour - Pouca coisa no curto prazo. A presença militar americana ainda será visível nas ruas,
e eles manterão um papel proeminente. Até que as forças iraquianas estejam atuando a plena capacidade, boa parte da responsabilidade pela segurança será dos
americanos. Não há muita diferença. Bom, exceto no lado político, pois agora cabe ao governo
iraquiano lidar com os serviços
elétricos, com o Orçamento, enfim, com essas coisas de que os
governos normalmente cuidam.
Ainda assim, haverá essa embaixada enorme dos EUA aqui, com
um número enorme de pessoas, o
que ainda representa um grande
grau de influência e de apoio.
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