São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007

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Alerta não altera fleuma londrina

Habituados a conviver com a ameaça terrorista, moradores da capital mantêm rotina e mostram resignação

Ruas próximas ao local em que carros-bomba foram achados são interditadas, mas residentes e turistas não perdem tranqüilidade

ALAN COWELL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES

A manchete do jornal londrino "Evening Standard" de ontem dizia que 1.700 pessoas poderiam ter morrido na "noite das mulheres" da boate Tiger Tiger. A polícia classificou como "significativo" o número de mortes que poderiam ter ocorrido, caso o carro-bomba tivesse sido detonado. Mas, do mesmo modo como Londres deu de ombros estoicamente diante dos ataques de 7 de julho de 2005, muitas pessoas nas ruas próximas a Piccadilly Circus, na sexta-feira, pareciam não estar muito preocupadas depois de a polícia anunciar que tinha desativado uma mistura explosiva de gasolina, pregos e bujões de gás num carro abandonado diante da Tiger Tiger, na avenida Haymarket.
"Isso é algo a que a gente se acostuma quando vive em Londres", disse o advogado Andrew Fowler, 39 anos, saboreando um café num estabelecimento ao ar livre perto de Piccadilly Circus. "Diante da posição do nosso governo com relação à guerra do Iraque e em outros lugares, acho que nos acostumamos a ser um alvo. É algo com que temos que conviver."
"Ouvimos um anúncio no metrô", disse Sheila Porter, 73 anos, psicóloga aposentada vinda da Irlanda para uma visita a Londres. "Tentei não pensar no que poderia ter acontecido, mas o anúncio pareceu indicar que o incidente ocorreu na rua, não no metrô, e por isso ficamos calmos. Para ser franca, não fiquei preocupada, porque não nos disseram o que foi, e disseram que não acontecera numa estação, mas na rua. Não sabíamos disso quando entramos no metrô, mas não tivemos outra escolha a não ser seguir adiante."
O alerta fez com que as ruas em volta de Haymarket fossem interditadas e levou algumas pessoas a sair dos escritórios das redondezas para descobrir o que estava acontecendo.
Tranquilidade
"Foi apenas quando cheguei ao trabalho que me dei conta do que estava acontecendo", disse a neozelandesa Renee Anderson, 32 anos, vinda da representação diplomática de seu país, situada nas proximidades. "Estou surpreendentemente tranqüila com tudo isso", disse ela. "A mentalidade inglesa é a de que eles já enfrentam isso há tanto tempo, com todas as bombas que já houve, que precisam levar a vida adiante."
Embora Picadilly Circus não estivesse tão repleta de pessoas quanto normalmente, o ambiente estava calmo. Turistas e moradores de Londres caminhavam com poucos sinais externos de ansiedade. Grupos de pessoas que aguardavam para entrar em áreas fechadas por cordões de isolamento estavam sentadas no meio-fio ou em pé nas calçadas, de vez em quando perguntando aos policiais quando poderiam passar. "Penso: "E daí?'", diz Paul Dickinson, 44 anos, diretor de uma empresa. "Há bombas em todas as cidades e houve bombas em Londres a minha vida inteira. Há riscos em qualquer cidade. Moro aqui há 20 anos e nunca me aconteceu nada."


Tradução de CLARA ALLAIN


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